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24/04/2014 | 11:16 | Polícia

Aluno exemplar, workaholic e pai distante: as faces de Leandro Boldrini, suspeito na morte do filho Bernardo

Conheça a vida do médico que era considerado o melhor de Três Passos e hoje está envolto num dos crimes mais chocantes registrados no Rio Grande do Sul

Conheça a vida do médico que era considerado o melhor de Três Passos e hoje está envolto num dos crimes mais chocantes registrados no 

Rio Grande do Sul
Orgulho dos pais e dos irmãos, o médico Leandro Boldrini tinha 27 anos quando Bernardo nasceu (Foto: Reprodução)
Leandro Boldrini, 38 anos, tinha a mesma idade do filho Bernardo Uglione Boldrini – 11 anos – quando foi internado para se operar de uma varicocele (dilatação anormal das veias dos testículos) em Ijuí. A experiência marcou sua vida, e ele decidiu, naquele instante, que seria médico, mesmo com as dificuldades. Caçula de três irmãos, Leandro morava em Campo Novo, município de apenas 5 mil habitantes, cuja vida gira em torno da pequena agricultura. Não havia grandes perspectivas além de ajudar os familiares na lavoura.
Para realizar o sonho de "tirar doutor", o pai de Leandro, Irildo Boldrini, investiu no garoto. Reuniu as economias e matriculou-o no Colégio Ipiranga, escola particular e tradicional de Três Passos – a mesma em que Bernardo estudava e que, hoje, está de luto. Para que o menino chegasse à cidade vizinha, pagava uma van que o carregava diariamente. A dedicação de Leandro aos estudos era tanta que ele chegou a estrelar um comercial do colégio, nos anos 1980, como aluno exemplar.
– Não lembro de alguma vez o meu velho ter se estressado com ele. E o velho é linha dura, sempre pelo lado certo da coisa. Mas nunca faltou afeto. Para a minha mãe, então, ele era um bebê. Ela vivia controlando o que ele comia, os remédios que tomava, sempre o protegia de tudo – conta o irmão mais velho, Paulo Boldrini, 52 anos.
Familiares garantem que pai e filho tinham boa relação
Leandro nunca trocou de escola. No Ipiranga, concluiu o Ensino Médio e, em seguida, mudou-se para Santa Maria, onde fez seis meses de pré-vestibular. Foi aprovado para o curso de Medicina na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) em terceiro lugar. Conquistou a confiança dos professores e ficava meses sem aparecer na casa dos pais, em Campo Novo, devido ao estágio nos finais de semana no hospital universitário.
Ele gostava de mexer nos cadáveres e, durante os churrascos na cidade natal, ajudava a carnear os animais e ensinava a família sobre o funcionamento dos órgãos. Foi nessa época que conheceu Odilaine Uglione, mãe de seu futuro filho, Bernardo.
Começaram a namorar, e Leandro se formou e retornou para Campo Novo, na companhia de Odilaine. Logo o casal se mudou para Passo Fundo, onde Leandro faria especialização em cirurgia no Hospital da Cidade. Orgulho dos pais e dos irmãos, o médico tinha 27 anos quando Bernardo nasceu.
Divórcio, suicídio e inferno astral
Falante e simpático, Leandro passou a infância e adolescência rodeado de amigos e nunca teve um incidente grave registrado. Seu filho, Bernardo, apresentava um temperamento semelhante. Amigos dizem que eles mantinham uma boa relação familiar. O menino falava que queria ser médico e seguir os passos do pai.
Com o nome consolidado em Três Passos, Leandro era o único cirurgião da cidade e tinha o respeito e admiração da comunidade de 24 mil habitantes. Era comum pacientes virem de outros municípios para operar com "o doutor".
Além da clínica particular de cirurgia, atendia também no Hospital de Caridade. Até a morte do filho, ocupou o cargo de diretor técnico da instituição, de onde acabou destituído. Boldrini era considerado um workaholic e um excelente profissional. Há relatos de que era comum ele abandonar almoços e jantas para socorrer emergências. Nunca houve uma denúncia contra ele no Conselho Regional de Medicina.
– Grande médico. Quanto a isso, sentiremos muita falta. Atendia bem, era preciso, nos transmitia segurança no que fazia – diz uma de suas pacientes mais antigas de Três Passos, que não quer se identificar.
A vida particular, porém, era conflituosa e recheada de brigas. Pessoas próximas a eles garantem que Odilaine era ciumenta e não aceitava os longos períodos de ausência do marido de casa. Leandro seria indiferente e costumava ouvir "esporros" públicos em silêncio. Em 2010, após anos de má convivência, ofensas mútuas e alguns incidentes terminados na delegacia de polícia, ele pediu o divórcio.
No dia 10 de fevereiro, Odilaine entrou em sua clínica e, supostamente, tirou a própria vida com um tiro no boca. O suicídio chocou a cidade e traumatizou o garoto Bernardo, então com sete anos.
Aos familiares, Leandro garantiu que não se envolveria tão cedo com uma nova mulher e dedicaria a vida a trabalhar e cuidar do filho. Poucas semanas depois, porém, assumia publicamente o namoro com a enfermeira Graciele Ugulini, que logo passou a morar na casa com Bernardo. Começava ali uma guerra que teve um trágico desfecho no dia 14 de abril deste ano. Ela trabalhava em um posto de saúde próximo a Três Passos quando eles se conheceram. O médico ainda era casado.
– Eu disse "Cuidado, vai devagar, tu és novo, vai ter gente querendo te explorar, enrolar e iludir". Ele disse que sabia o que estava fazendo, que ela era uma pessoa decente e que eles se conheciam "faz tempo" – relata Paulo Boldrini.
Renda mensal do médico chegaria a R$ 80 mil
Aos poucos, Graciele foi tomando conta da vida de Leandro, inclusive financeiramente. Eles não costumavam discutir os preços que pagavam pelos bens que compravam, como motos e carros, e era a enfermeira quem administrava tudo – desde simples boletos até os fornecedores da clínica. Para fazer os pagamentos, ela usava cheques e cartões bancários do médico. Com o tempo, tornaram-se sócios.
O patrimônio de Boldrini é estimado em, pelo menos, R$ 1,5 milhão. Somente a casa em que a família morava vale cerca de R$ 700 mil. Ele tinha ainda uma residência no campo, um Veloster, uma caminhonete Mitsubishi L200 e sua renda mensal chegaria a até R$ 80 mil.
O menino Bernardo, por outro lado, usava roupas velhas e frequentemente ganhava dinheiro e roupas de famílias vizinhas. O médico não poupava tempo e energia para acumular uma pequena fortuna e deixava tudo em segundo plano em nome da profissão, especialmente o filho, que perambulava em Três Passos sem um real no bolso.

 

Fonte: Zero Hora
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