Escondida há anos em uma sala fechada de uma escola de Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul, uma estátua
de São Nicolau sem origem conhecida intriga os pesquisadores da arte jesuítica. Com todas as características similares às obras feitas há mais de 300 anos
no estado, a estátua de madeira pode ser uma relíquia roubada de uma igreja nos anos 1960.
Nos documentos da instituição, não
há registros da estátua de São Nicolau. O pesquisador da arte jesuítica e caçador de relíquias, irmão Edison Huttner, descobriu a imagem por
acaso, e decidiu investigá-la. "Foi uma surpresa e uma alegria descobrir que dentro da nossa escola centenária tem um objeto com tanto peso e significado para a nossa
cultura", enaltece o diretor da escola, Carlos Sardi.
A escultura foi então enviada ao Instituto do Cérebro, em Porto Alegre, para testes em busca de
comprovação da sua origem. Uma tomografia computadorizada, idêntica à utilizada em seres humanos, detalhou as características da imagem.
Como, por exemplo, um cravo, espécie de prego que apareceu cravado na base da estátua. Segundo Edison, é um tipo de cravo semelhante ao utilizado em outras obras
jesuíticas, que serviam para que a estátua ficasse firme em uma base.
Acredita-se que a estátua de São Nicolau tenha mais de 300 anos. O
desgaste é visível na madeira, mas não o suficiente para apagar as evidências que, segundo os pesquisadores, ajudam a comprovar que a estátua foi esculpida
no início do século 18, por um artista italiano, em um ateliê de São Borja, no estilo da arte jesuítica.
"Tem o mesmo tipo de
olho, o mesmo tipo de orelha, de policromia", explica Edison Huttner, reforçando as suspeitas. Policromia é a técnica que cobertura de estátuas, em que se
mistura gesso com outros materiais, entre eles, o pó de ouro - outra característica comum da arte missioneira.
A pesquisa ainda precisa ser comprovada, na
comunidade cientifica, mas os padres não têm dúvida de que esse é o São Nicolau feito por jesuítas."Por que nós temos representados nas
figuras. Conhecemos todos santos e santas mesmo na antiguidade têm representatividade. Então não tenho dúvida que é São Nicolau", diz o padre e
professor Pedro Alberto Kunrath.
Escultura seria a mesma roubada de uma igreja há 40 anos
A escultura vai ficar exposta
na Biblioteca da PUCRS por mais duas semanas. Durante este período, o futuro da obra vai ser decidido. Se ela volta para Santa Maria ou se ela vai ser levada para São Nicolau,
de onde, acredita-se, ela foi furtada na década de 60.
A aposentada Elmi Maria Porch lembra da estátua. Ela ficava em uma igreja, já demolida.
"Parece que se eu chego ali no lugar eu lembro bem até onde ele estava, sempre no pilarzinho que construíram de concreto. Os santos ficavam do lado".
Porém, certo dia, o marido de dona Elmi veio até a igreja para bater o sino, e percebeu que uma janela próxima à escultura estava aberta. A
estátua tinha sido furtada.
Há outra evidência de que a estátua é mesmo a que ficava na igreja: marcas mais escuras na madeira, que
indicam que a peça resistiu a incêndios, como os que atingiram a igreja de São Nicolau entre 1886 e 1887.
Diante de tudo isso, agora a
comunidade católica da cidade pediu, em uma carta aos irmãos maristas da PUCRS, para que São Nicolau volte, enfim, para casa.
Mas afinal de
contas, quem é São Nicolau?
São Nicolau é um dos santos mais populares do mundo. Nasceu na Turquia no século três, sua
figura deu origem a um personagem muito conhecido, devido à uma lenda, contada através dos anos.
Contam que, em uma certa noite, Nicolau deixou ouro
de presente, para a surpresa de três moças, que eram muito pobres. Em função dessa história, na Europa, se desenvolveu o hábito de trocar presentes
no dia do santo. A tradição foi parar na noite de Natal, e assim, a história de São Nicolau deu origem ao personagem mais presente no fim do ano: o Papai
Noel.