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15/10/2020 | 08:18 | Saúde

Distanciamento social por covid-19 derruba incidência de outras doenças respiratórias

Casos de influenza no Brasil caíram de 5,5 mil para 1,8 mil; Rio Grande do Sul não testa outros vírus respiratórios

Casos de influenza no Brasil caíram de 5,5 mil para 1,8 mil; Rio Grande do Sul não testa outros vírus respiratórios
Reprodução/Internet
Distanciamento social, uso de máscaras, lavagem de mãos e cancelamento das aulas em escolas ajudaram o Brasil a combater a pandemia de covid-19, mas também tiveram outro efeito de saúde positivo: derrubaram a incidência de outras doenças respiratórias que levavam a população a lotar emergências hospitalares durante o inverno, mostram dados do InfoGripe, sistema estatístico da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Rio de Janeiro. 
Os casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) gerados por influenza A e B despencaram neste ano em meio à explosão da covid-19, como mostram os gráficos a seguir. 
As mortes causadas por influenza também reduziram no país, passando de 999 até setembro do ano passado para 219 no mesmo intervalo deste ano. 
No Rio Grande do Sul, houve forte queda, porém as estatísticas estão subnotificadas porque, na rede pública, o Estado só testa pacientes para coronavírus – ainda assim, analistas que acompanham diariamente a rotina de hospitais afirmam que o fenômeno nacional se repete localmente. 
No jargão médico, SRAG é um guarda-chuva que envolve infecções graves causadas por vírus respiratórios – até antes da pandemia, era causada sobretudo por influenza A e B, mas também adenovírus, parainfluenza e vírus sincicial respiratório. O quadro inclui febre, tosse ou dor de garganta, e falta de ar ou oxigenação do sangue abaixo de 95%. A partir deste ano, a covid-19 entrou no grupo e passou a predominar entre os diagnósticos.
Segundo três especialistas consultados por GZH, a queda na prevalência de outros vírus respiratórios ocorre pelo seu menor potencial de transmissão na comparação com o Sars-CoV-2 – portanto, medidas de combate à pandemia acabaram tendo impacto ainda maior na prevenção para além da covid-19. 
O Brasil enfrentava, em janeiro e fevereiro, um aumento nos casos de SRAG causados por influenza A e B em função de uma grande temporada de gripe no inverno do Hemisfério Norte, mas a incidência caiu após o isolamento, afirma Marcelo Gomes, pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz e coordenador do InfoGripe. 
— O cenário estava desenhado para um ano forte em termos de casos de influenza. Mas aí chegou março e, com a entrada do novo coronavírus, houve o período de fechamento de escolas e de comércios, uso de máscaras e outras restrições. Em abril, despencaram os casos de SRAG por demais vírus respiratórios — aponta Gomes. 
As estatísticas mostram que a covid-19 teve grande peso nas infecções respiratórias até setembro deste ano: no Brasil, o novo coronavírus foi o motivo de 82 mil dentre as 83 mil mortes registradas por SRAG e confirmadas em laboratório. 
Os números estão abaixo do informado em boletins do Ministério da Saúde porque nem todas as mortes por covid se enquadram como SRAG – se o paciente não tiver tosse ou falta de ar, por exemplo. 
— As medidas de mitigação de contágio funcionam para todos os vírus respiratórios, mas o impacto do distanciamento é muito maior em outras doenças respiratórias que não a covid porque a covid tem transmissão e mortalidade muito mais altas. Os dados de influenza são muito inferiores ao ano passado, o desafio deste ano foi lidar com o Sars-CoV-2, que contaminou muitas pessoas mesmo com as medidas de distanciamento — afirma Jeruza Neyeloff, médica epidemiologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. 
RS não testa outros vírus respiratórios, mas incidência caiu
No Rio Grande do Sul, os casos de SRAG por influenza caíram de 406 para apenas dois em 2020 e as mortes, de 48 para uma, mas o Laboratório Central do Estado (Lacen) parou de testar para outros vírus que não sejam o Sars-CoV-2.
Por e-mail, a Secretaria Estadual da Saúde afirmou que a rede pública não investiga outros vírus respiratórios a fim de “dar maior agilidade para a testagem do coronavírus, já que é o mesmo método usado para os demais agentes etiológicos, ou seja, não é possível a realização concomitante da covid-19 e dos outros vírus”. 
A pasta também informou que “todos os esforços do Lacen e rede pública colaboradora estão concentrados na testagem para detecção do Sars-CoV-2 na população gaúcha” e que o Lacen está “atendendo recomendação das autoridades nacionais de saúde, em consonância com os outros Estados”. 
O governo também disse que “posteriormente, as amostras coletadas de pacientes que deram negativo para coronavírus poderão ser testadas para outros tipos de vírus a fim de manter atualizados os dados epidemiológicos”.
No entanto, o Guia de Vigilância Epidemiológico publicado em agosto pelo Ministério da Saúde preconiza que governos sigam testando indivíduos com SRAG para outras doenças respiratórias, mesmo durante a pandemia. O documento diz: “Se o resultado para detecção de Sars-CoV-2 for negativo, realizar o RT-PCR para o diagnóstico de influenza e outros vírus respiratórios”. 
— O Brasil tem uma rede de vigilância para casos graves de síndrome respiratória na qual se faz uma testagem ampla dos demais vírus respiratórios, e isso tem se mantido na pandemia. Por um problema relacionado a abastecimento de insumos e kits PCR, no Rio Grande do Sul, em particular, assim como alguns outros Estados, o Lacen não tem conseguido manter a testagem para SRAG seguindo o protocolo nacional e optou por testar os óbitos por SRAG apenas quando o resultado dá negativo para o novo coronavírus — diz Marcelo Gomes, da Fiocruz. 
Apesar da subnotificação gaúcha, hospitais atenderam no dia a dia menos pacientes com os demais vírus respiratórios, pontua Ronaldo Hallal, médico infectologista do Comitê Covid-19 da Sociedade Sul-Riograndense de Infectologia. 
— Em alguns locais, houve uma diminuição da realização de testes para outras doenças porque os laboratórios passaram a se dedicar quase que integralmente à covid-19. Mesmo assim, houve redução de outras infecções respiratórias. O que estressou o sistema de saúde neste ano foi a covid-19 — explica Hallal. 
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A médica epidemiologista Jeruza Neyeloff observa que a temida sobreposição de curvas epidêmicas – gripe de inverno com coronavírus – não ocorreu:
— A maioria das SRAGs chega a hospitais. Posso falar pelo Hospital de Clínicas, e a gente testa todos os vírus respiratórios. Não teve sobreposição da curva de vírus do inverno com a curva do coronavírus. O desafio deste ano foi lidar com o Sars-Cov2.
Fonte: GZH
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