Dias antes do Natal, Manuela Teixeira, 19 anos, pediu um vale para a dona do restaurante onde
trabalhava, no centro de Capão da Canoa, no Litoral Norte. Ela queria adiantar os preparativos para a ceia com Franciele Melo, 22 anos, colega de trabalho e sua companheira há
cerca de dois anos.
Sabendo da intenção das gurias de festejar a data, Gislani Pires pensou ter sido esse o motivo do atraso das funcionárias na
manhã desta quinta-feira, mas não. Por volta das 11h, a moto guiada por Manuela, com Franciele na garupa, foi atingida por uma Ecosport desgovernada na Avenida Paraguassu, no
cruzamento com a Rua Divisória. Manuela morreu no local. Testemunhas relataram que ela ainda tentou avisar que a companheira estava em meio a um matagal à beira da via,
arremessada pela violência do choque.
Socorrida e conduzida ao Hospital Santa Luzia,
Franciele continua na UTI, em estado gravíssimo. Familiares tentaram transferência para a Capital, mas os médicos não recomendaram a remoção,
temendo que a jovem não resistisse.
— Era muito bonito ver a relação das duas, eram meninas muito meigas e ótimas funcionárias
— diz Gislani.
No Facebook, o perfil de uma leva também o nome da outra, e vice-versa, explicitando a sintonia do casal. Gislani lembra que as duas gostavam
de andar de skate nas horas de folga. Há três temporadas elas reforçavam a equipe do restaurante, onde trabalha também a mãe de Franciele, Tereza. Ela
já estava trabalhando quando recebeu a notícia.
O motorista da Ecosport, Leonan dos Santos Franco, 30 anos, foi indiciado pela Polícia Civil
por homicídio doloso (quando há intenção de matar) e por tentativa de homicídio. Ele se negou a fazer o teste do bafômetro, mas segundo a delegada
Priscila Salgado um exame médico feito no posto de saúde local, além do testemunho de policiais e populares que acompanharam a ocorrência, confirma que Franco
apresentava visíveis sinais de embriaguez. Ele foi preso em flagrante e encaminhado ao Presídio de Osório.
Irmão mais velho de Manuela,
Ênio Esteves Teixeira Júnior não se conforma com a tragédia que tirou a vida da caçula da família.
— É
inacreditável. Não é uma infração de trânsito ou uma simples imprudência, isso é um assassinato a sangue frio feito por um ignorante
alcoolizado, que teve livre acesso à bebida. É um sentimento que vai contra a lei da vida. Ninguém espera enterrar um filho ou uma irmã mais jovem —
desabafou.
No registro da ocorrência, não consta a velocidade a que estava a Ecosport. O relato dá conta de que o veículo, com placas de
Criciúma (SC), estava na contramão quando atingiu a moto.