No bar, no mercado, na esquina. Em qualquer lugar do bairro Jardim Paraíso, na
zona Norte de Joinville, há moradores que já ouviram falar em uma lista de nomes marcados para morrer. Alguns falam em 20, outros, em 30.
Dos
21 homicídios registrados neste ano em Joinville, sete foram contra moradores do bairro – um terço dos casos. Cinco aconteceram dentro do Jardim Paraíso. Outros
dois, que ocorreram na avenida Santos Dumont – uma das vias de acesso – são de moradores do bairro, confirma a polícia. Os homicídios deste ano já
ultrapassaram as seis mortes do bairro em todo o ano passado.
A nova onda de mortes no Jardim Paraíso – que já foi assombrado pela
violência no passado – tem causado insegurança entre os moradores.
— Eu tenho certeza de que estou livre dessa. Tem (lista), mas
ninguém sabe quem é — disse em tom de brincadeira um dono de bar.
— Não é mentira, não. Se fosse mentira, você
acha que morreria gente de graça? A gente vê de tudo, mas não pode nem falar — afirmou, com medo, outro morador.
Rogério Peixoto, 49,
foi assassinado a tiros durante a madrugada na avenida Santos Dumont. Beivi Engelmann da Silva, 29, foi morto dentro do próprio carro, na Estrada Timbé, à luz do dia.
José Felipe Bastos morreu com oito tiros na Santos Dumont. Efrain Josias Trindade, 19, foi morto na frente de casa com cinco disparos.
Douglas Pereira
Narciso, 22, foi assassinado com cinco tiros, pela manhã, na obra em que trabalhava. O mototaxista Luciano Guimarães Meira, 37, foi executado com quatro tiros. Cesar Augusto
do Espírito Santo Ilha, 57, foi encontrado morto na cabeceira da ponte pênsil perto do rio Cubatão.
O dono de um dos bares percebeu que as rodas
de usuários de drogas nas ruas diminuíram após a onda de mortes. Ele também afirma que muita gente anda armada no bairro.
Uma
comerciante comenta que teve o carro atingido por um tiro quando homens tentavam matar um vizinho dela. Pelo rombo no carro, ela supõe que seja de arma de grosso calibre. O rapaz
conseguiu escapar com vida.
— Essas mortes assustam, né? Tem muita gente que não quer mais sair à noite. É por causa de droga —
limitou-se a dizer outro morador.
O vice-presidente da Federação das Associações de Moradores, Luiz Alves Castanha, acredita que
ações recentes da polícia podem frear as execuções. A última morte aconteceu há dez dias, em 9 de fevereiro.
— Existe essa preocupação. Com as operações, melhorou um pouco — avaliou.
Para polícia, tráfico
está por trás
As especulações são muitas e as certezas são poucas. A existência de uma lista de nomes marcados
para morrer no Jardim Paraíso não é confirmada pela Polícia Civil. O envolvimento de facções criminosas nas mortes também
não.
Porém, a polícia confirma que os homicídios têm relação com o tráfico de drogas e que algumas mortes
podem ser resultados de intrigas entre grupos de lados opostos. As investigações são conduzidas pelos delegados Luis Felipe Fuentes e Paulo Reis, da Divisão de
Homicídios.
Fuentes avalia que as mortes ocorrem com mais frequência nos bairros mais afastados e normalmente são equiparadas entre zonas Norte e
Sul.
— A metade deles (homicídios) é por envolvimento com o tráfico de drogas — reforça.
Esse envolvimento a
que o delegado se refere abrange tanto a situação do usuário que comprou e não pagou pela droga quanto a briga pelo ponto de venda.
A
reportagem de “A Notícia” apurou que pelo menos dois suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas foram presos recentemente em operações da
Polícia Militar no Jardim Paraíso. Arma de fogo, drogas e colete balístico foram apreendidos durante as ações. Barreiras policiais que fazem parte de
operações de segurança em toda a cidade também têm sido organizadas com frequência na região.
Bairro já teve
“toque de recolher”
Nos últimos quatro anos, o bairro não registrou mais do que oito homicídios por ano. Nesse
período, quem liderou a lista de assassinatos foi o Paranaguamirim, na zona Sul da cidade. Porém, o Jardim Paraíso ocupou a segunda posição em 2010, 2012
e 2014.
Ações policiais e sociais colaboraram para que o bairro perdesse a liderança nas estatísticas desde a última onda de
violência, que ocorreu entre 2007 e 2008. Segundo levantamento de “A Notícia”, pelo menos 21 pessoas foram mortas no Jardim Paraíso em 2007 e 16 em 2008. As
mortes foram relacionadas a brigas entre gangues. Eram grupos de lados opostos que disputavam o tráfico de drogas.
Em 2004, o então delegado regional
Marco Aurélio Marcucci chegou a decretar uma espécie de “toque de recolher”. Uma portaria proibia o funcionamento dos bares após as 21 horas de segunda a
sexta-feira e após as 23 horas nos fins de semana. Ele tentou fazer o mesmo enquanto era vereador em 2007, mas a proposta foi recusada pela maioria na Câmara.