A
empresa de União da Vitória, na região sul do Paraná, responsável pelo ônibus que se acidentou na Serra Dona Francisca, no norte de Santa Catarina,
não tinha autorização para viagem interestadual. A informação foi dada pelo secretário de Segurança Pública do Paraná,
Fernando Francischini, nesta segunda-feira (16).
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) - responsável por serviços de transporte
interestadual de passageiros, com origem e destino em estados distintos - confirmou a falta de autorização.
O ônibus em que as vítimas
viajavam caiu em uma ribanceira no quilômetro 89 da SC-418, em Joinville, no fim da tarde de sábado (14).
O grupo saiu de União da
Vitória na sexta-feira (13) e atravessava Santa Catarina para ir até um evento religioso em Guaratuba, no litoral do Paraná. A suspeita é que o motorista tenha
perdido o controle do veículo em uma curva.
De acordo com a Polícia Militar Rodoviária, o grupo saiu de União da Vitória com dois
ônibus menores. Porém, no caminho, um dos veículos apresentou problemas mecânicos. Como não foi possível solucionar, um ônibus maior foi
chamado e juntou os passageiros dos dois veículos.
Até o fim desta manhã, 51 mortes tinham sido confirmadas e sete pessoas continuavam
internadas.
A Secretaria de Segurança Pública do Paraná explicou que o motorista tinha apenas uma autorização do Departamento de
Estradas de Rodagem do Paraná (DER-PR) para viajar até Guaratuba, no litoral do Paraná, com determinado ônibus.
No entanto, de acordo com
Francischini, a viagem foi feita com outro veículo e passou por outro estado. Para percorrer Santa Catarina, o condutor precisava de uma autorização da ANTT.
“Além do mais, o pedido era para 31 pessoas; havia mais de 60 no ônibus. Vamos abrir um inquérito para garantir as indenizações para as
vítimas”, afirmou o secretário.
O G1 tentou entrar em contato com a empresa Costa & Mar Turismo. Entretanto, até a
publicação da reportagem, não obteve retorno. O proprietário da empresa, que dirigia o ônibus, e o filho dele fazem parte das vítimas que morreram
no acidente.
Perícia
O Instituto Geral de Perícias (IGP) de Joinville deve iniciar entre a tarde desta segunda-
feira e a manhã de terça (17) as análises para elaborar um laudo sobre as possíveis causas.
Uma equipe do IGP acompanhou a retirada dos
destroços do veículo ainda na noite do domingo (15). O ônibus foi levado para o pátio da PMRv em Campo Alegre, onde era aguardada a chegada dos peritos.
“Estamos dando toda prioridade para esse caso”, disse a gerente mesorregional de perícias do IGP de Joinville, Suellen Pericolo. Segundo ela, serão
definidas equipes de especialistas para diferentes frentes de análise, como mecânica e estrutural. “Por enquanto não é possível afirmar nada. Com a
queda, os bancos foram deslocados.”
Ainda não há informações confirmadas sobre a capacidade do ônibus, nem sobre a
possibilidade de crianças terem viajado no colo de alguns passageiros, segundo o IGP. “O que sabemos é que a lista de passageiros era inferior ao número de
pessoas que estava no veículo”.
Suellen acredita que o resultado da perícia sairá antes do prazo para conclusão do inquérito
policial, que é de 30 dias.
Enterros e velórios
A maioria das vítimas foi enterrada na manhã
desta segunda-feira em União da Vitória. Houve corpos enterrados em outras cidades do estado; 15 pessoas foram veladas e sepultadas em Porto União, cidade de Santa
Catarina que faz divisa com o município paranaense.
A crediarista Juliana Marcondes perdeu sete familiares. Ela veio de Araucária, na Região
Metropolitana de Curitiba, para acompanhar o velório e o enterro da família – a maioria primos. “Perder tanta gente de uma só vez é uma
tragédia. É muita dor”, desabafa.
Os familiares de Juliana foram velados no Ginásio de Esportes Benedito Albino, no distrito São
Cristóvão, onde ocorreu também o velório coletivo. Houve famílias que preferiram velar os parentes em casa, em igrejas dos bairros e até em outras
cidades, como Mallet e Castro, na região dos Campos Gerais.
Transporte dos corpos
Segundo o Governo de Santa Catarina,
o caminhão refrigerado saiu, às 16h de domingo, com 32 corpos do Instituto Médico-Legal (IML) de Joinville; 11 corpos foram levados por funerárias e sete
permaneceram no IML. Os últimos não puderam ser levados no dia para o Paraná porque as famílias não foram localizadas ou por falta de
documentação. No entanto, nesta segunda-feira, seis deles foram liberados. Até o fim da manhã, restava apenas um corpo no IML.
Todos os
corpos foram identificados; foram 12 horas para que o trabalho fosse concluído. Havia 15 homens, 20 mulheres, cinco adolescentes e 11 crianças entre as 51 vítimas
identificadas pelo IML.
Paraná de luto
Na manhã de domingo, o governador do Paraná Beto Richa decretou
luto oficial de três dias em todo o estado, como homenagem às vítimas do acidente.
A presidente Dilma Roussef também se manifestou sobre
o acidente em nota. "É com pesar que soube da notícia da morte de 54 pessoas em um acidente de ônibus na Serra Dona Francisca, em Santa Catarina. Nesta hora de dor
e sofrimento, quero apresentar meus sentimentos às famílias e amigos que perderam seus entes queridos", disse.
Retirada do
ônibus
A SC-418, onde ocorreu o acidente, foi bloqueada entre as 16h10 e as 22h10 de domingo para a retirada do veículo, que estava a cerca
de 100 metros da altura da rodovia. O ônibus foi levado para o posto da polícia rodoviária de Campo Alegre e, conforme os policiais, ainda deve passar por
perícia. Durante a remoção, embaixo do veículo, foi achado o corpo da 51ª vítima.
Feridos
Sete passageiros seguem internados em hospitais do norte catarinense, conforme a SDR; quatro deles estão em UTI.
Um ferido teve teve alta médica no
final da manhã de domingo (15). Brayan Lohan de que seu estado é considerável estável, com escoriações pelo corpo e uma fratura.