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05/09/2015 | 20:16 | Cultura

Clássicos Gauchescos: Pedro Ortaça conta a história da música 'Timbre de Galo'

Série de reportagens conta a história de quatro músicas marcantes do cancioneiro gaúcho, destrinchando letras e melodias a partir do relatos de autores e intérpretes

Série de reportagens conta a história de quatro músicas marcantes do cancioneiro gaúcho, destrinchando letras 

e melodias a partir do relatos de autores e intérpretes
Direção, imagens e edição: Marcelo Carôllo
"O poeta é um repórter de seu tempo", costumava dizer Apparicio Silva Rillo. E manter acesas memória, identidade e cultura do povo gaúcho se tornou um lema para as letras do compositor, morto em 1995 devido a um câncer. Exemplo disso é o poema escrito por ele em 1988, que transporta quem não viveu em seu tempo a se sentir parte dele ao cantá-lo.

Timbre de Galo nasceu sob o título Como Sou. Os versos foram entregues ao amigo missioneiro Pedro Ortaça, que retirou estrofes, mudou o nome e ofereceu uma melodia que os ouvidos reconheceriam até se fosse possível retornar onde o Rio Grande começa, como sugere Rillo na canção.
— Certo dia, o Rillo me recebeu em casa e disse que tinha uns versos especialmente para eu musicar e gravar. Sentei na frente dele, só dei umas batidas na guitarra (violão) e já veio a melodia. Timbre de Galo é quase um hino ao Rio Grande — conta Ortaça.
O saudosismo nas palavras de Rillo reflete ações de um Rio Grande do Sul que já não existe mais, como aquele no qual os cantores expressavam, por meio da música, o que percebiam da sociedade.
— Os payadores (declamadores) desta terra andavam de pago em pago, cantando. Era como se fosse um jornal, que trazia as notícias de um mundo novo — explica Ortaça.
Um dos criadores da música missioneira
Aos mais resistentes às tradições, Timbre de Galo lembra que as cidades de hoje foram forjadas a partir das estâncias de outrora, sem que a condição urbana anulasse a vida do homem do campo. Segundo Ortaça, é uma maneira de não esquecer os homens que "formaram as fronteiras do Estado pelas patas do cavalo".
— E se me chamam de grosso, nem me bate a passarinha, nem me preocupo — brinca.
Mistura de índio guarani, português e espanhol, "que só se comunica por sinal de fumaça", como ele próprio define, "Dom" Ortaça é o único dos quatro “troncos missioneiros” ainda vivo. 
Na década de 1960, ao lado de Jayme Caetano Braun, Cenair Maicá e Noel Guarany, todos da região das Missões, idealizou um modo de expressão que pudesse representar o cancioneiro guaranítico. Além de mudar os acordes convencionais dos instrumentos, o quarteto propôs denunciar injustiças sociais e protestar contra elas.
— Achamos que, quanto mais rica fosse a música, mais penetração ela teria no Brasil e fora dele. Aqui nas Missões se formou o Rio Grande do Sul. Viemos de uma raça que não se entrega por nada. O músico não deve cantar só flores, mas também a realidade de seu povo — justifica Ortaça.
A defesa das etnias indígenas e dos Sete Povos das Missões rendeu a Pedro Ortaça, em 2008, o título de Mestre das Culturas Populares, oferecido pelo Ministério da Cultura. Cinco anos antes, indicado pelo ex-governador Olívio Dutra, representou o Estado na Esplanada dos Ministérios durante a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Fonte: Zero Hora
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