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31/08/2021 | 12:36 | Educação | Três de Maio

Valorizar e preparar para incluir: Apae de Três de Maio celebra inserção de alunos com deficiência no mercado de trabalh

Atualmente, 18 alunos estão contratados, atuando em cinco empresas com as quais a instituição tem parceria: John Deere, Lojas Quero-Quero, Gôndolas Mar-Rio, São José Industrial e Lojas Colombo

Atualmente, 18 alunos estão contratados, atuando em cinco empresas com as quais a instituição tem parceria: John Deere, Lojas Quero-Quero, Gôndolas Mar-Rio, São José Industrial e Lojas Colombo
Assessoria de Imprensa

Estudar, se capacitar e conseguir um trabalho, conquistando independência financeira, realização pessoal e valorização profissional. A maioria das pessoas consegue visualizar e almejar isso. As pessoas com deficiência também! Afinal, conseguem provar que limitações físicas ou mentais não significam baixa capacidade produtiva. Ou seja, elas são capazes de entregar excelentes resultados.

Por isso, a Apae de Três de Maio, ao longo de sua história, tem contribuído para a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, valorizando-as e enaltecendo as habilidades de cada uma. Registros dão conta de que desde a década de 90 a instituição já abria caminho neste processo de inclusão dos alunos no mercado de trabalho.

Ao longo dos anos, diversas empresas locais e regionais foram demonstrando interesse em abraçar esta causa, fortalecendo e desenvolvendo a inclusão de sua forma mais funcional.

Atualmente, a instituição tem parceria com cinco empresas: John Deere, Lojas Quero-Quero, Gôndolas Mar-Rio, São José Industrial e Lojas Colombo, com vista à destinação de vagas aos assistidos pela entidade, empregando 18 alunos.

Profissionais da Apae preparam e acompanham alunos para o mercado de trabalho

Os assistentes sociais da Apae de Três de Maio, Fabiane Freoder e Leandro Steiger, que atuam com a inserção dos alunos nas empresas, destacam que, por meio do trabalho, as pessoas com deficiência desenvolvem autonomia, autoestima, qualidade de vida e se desenvolvem pessoalmente como cidadãos que contribuem na sociedade. “Cada um deles tem um perfil diferente. No geral, são responsáveis, dedicados, prestativos e cumpridores de regras, sendo que os outros colaboradores os recebem com empatia e a integração é tranquila”, contam.

Leandro ressalta que a admissão do trabalhador com deficiência no mercado de trabalho é um direito constitucional e também um papel social importante de inclusão e respeito. De acordo com a Lei 8213/91, é obrigatório para empresas com mais de cem colaboradores a contratação de profissionais com deficiência, obedecendo o percentual que varia de 2 a 5% de acordo com número de empregados. De 201 a 500 funcionários a cota é de 3%, de 501 a 1000 funcionários, cota de 4% e, de 1001 em diante, a cota é de 5% dos colaboradores. Também conhecida como Lei de Cotas, integra uma série de direitos garantidos pela legislação brasileira aos 45 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência.

Conforme a psicóloga Beatriz Pletsch, a preparação começa com a identificação das competências e perfis profissionais dos alunos que têm idade para o trabalho. Depois, são mapeadas as oportunidades com as empresas parceiras e feito um levantamento das necessidades ou adaptações para a execução da função, assim como a preparação para o mercado de trabalho.

Após a inclusão, é realizado o acompanhamento para o melhor desempenho nas tarefas e também na sua nova rotina. “No acompanhamento, o aluno assistido pode trazer questões relacionadas à ansiedade e ao medo do novo emprego, do que terão que enfrentar, inseguranças relacionadas as tarefas que irão desempenhar, além de serem trabalhadas a nova rotina, responsabilidades e deveres, hábitos de higiene, alimentação e de sono, o uso contínuo de medicação, caso necessário, e as relações interpessoais, sendo que esse assunto geralmente é um dos geradores de ansiedade”, explica a psicóloga.

“Eles se empenham 100% no que se propõem a fazer”

A Lojas Quero-Quero de Três de Maio emprega, hoje, três pessoas com deficiência, todas oriundas da Apae local: Jaime Panzer, Alan Bonfanti e Alexandro Neuhaus.

Conforme o gerente, Edelson Leichtweis, os três – cada um com sua habilidade e limitação –, se empenham 100% no que se propõem a fazer. “Eles têm dificuldades, mas isso não impede que desenvolvam o trabalho com excelência. Aqui, são iguais aos outros, tanto dos direitos quanto nos deveres: cumprem horários, ganham benefícios. Eles precisam se sentir incluídos e que saberem que são importantes para o sucesso do trabalho.”

A equipe, que conta com 28 funcionários, acolheu muito bem eles, segundo o gerente. “Eu vejo isso como muito fácil de ser assimilado. Afinal, o mais importante é o respeito entre todos. Não se pode mais admitir preconceito. Vivemos em sociedade, cada um com suas habilidades e limitações”, reforça.

Na gerência da filial desde dezembro de 2017, Leichtweis conta que quando chegou em Três de Maio, a loja já contava com o trabalho do Jaime e do Alan. “Contatei a diretora Nadir, a fim de ver a disponibilidade de termos mais um colaborador com deficiência. Então a instituição, por meio dos profissionais, indicou o Alexandro. Conversamos com ele e com a família e efetuamos a contratação”, explica.

Ele atua como auxiliar de estoque, auxilia os colegas na entrega de produtos e separa mercadorias. E é colega de setor do Jaime, que está na empresa desde 2014. Brincalhão com todos, o gerente diz que, embora sem saber Libras, entende o que o funcionário quer lhe dizer, por meio de gestos e sinais. “Eu também consigo transmitir minha mensagem a ele. A experiência diária proporciona isso.” E o Alan atua como auxiliar operacional desde 2015. Ele repõe produtos, passa pedidos na fila, ajuda na limpeza e leva produtos nos carros dos clientes.

Os três, quando questionados sobre como é trabalhar na Quero-Quero, dizem que gostam dos afazeres e do ambiente de trabalho. “Para mim, é uma superação de vida estar aqui”, diz Alexandro. “Nos sentimos muito bem acolhidos por todos”, declara Alan. Jaime, por meio de sinais, confirmou o que os colegas disseram.

“Todos eles são muito queridos por todos! Cada um cativa à sua maneira. Aliás, de um tempo para cá, percebo que os clientes veem de forma natural. Recebo inúmeros elogios pela empresa incluí-los. E isso é um feedback importante. A empresa valoriza muito a inclusão, o respeito e a diversidade. Venho de outras filiais, onde também havia pessoas com deficiência na equipe. Eu sinto que a dedicação delas é grande e quanto mais eu incluir, mais consigo unir a equipe.”

Quando a preparação encontra a oportunidade

Rafael Pinheiro, de 23 anos, faz parte do time de colaboradores da Gôndolas Mar-Rio há cinco, tendo ingressado na empresa sem a necessidade da Lei de Cotas. Ele é auxiliar de produção e conta que é muito bom trabalhar na empresa, sendo que o que mais gosta de fazer é trabalhar no setor de pintura.

Conforme os irmãos Marcos e Mário Kleinert, sócios-proprietários da Gôndolas Mar-Rio, de Três de Maio, a contratação do Rafael ocorreu após uma visita da equipe da Apae. “O Rafael queria trabalhar e eles então nos apresentaram. Admitimos, pela primeira vez na empresa, uma pessoa com deficiência.”

Eles contam que, no início, foi um pouco difícil a adaptação, mas que logo foi superada. “Hoje o Rafael é como um veterano aqui. Ele aprendeu bem o serviço. Conforme precisamos, ele desempenha os afazeres, conforme a nossa demanda aqui. Curioso deste o início sobre o funcionamento das máquinas e da produção, foi conhecendo como funciona o trabalho e se enturmou bem. Demos a ele uma função que pudesse desempenhar”, destacam.

“Todos têm o direito de trabalhar. Conhecemos o trabalho que a Apae desenvolve para inserir os alunos no mercado de trabalho, que é muito importante e possibilita que eles também tenham uma oportunidade.”

Programa COMVIDA, desenvolvido na São José Industrial, tem como propósito promover a diversidade e inclusão dentro da empresa

A empresa São José Industrial, de São José do Inhacorá, tem em sua equipe 11 pessoas com deficiência. Destas, oito chegaram até a empresa por intermédio da parceria com a Apae de Três de Maio.

Fernando Berndt foi contratado em 2013 e em 2018 ingressaram Elisandra Bonmann, Altir Spohr, Graciele Lesses e Cleiton Fernandes. E, no início deste mês de agosto, os alunos Janice Terezinha Hunnoff, Viviane Werich da Silva e Ériton Machado de Souza foram contratados.

Aliás, a primeira contratação de pessoa com deficiência pela empresa ocorreu em 2013, de um aluno da Apae. De acordo com Charline Fernanda Reidel, do setor de Gestão Humana da empresa, a Apae prontamente lhes atende com indicações de alunos para ingressarem no mercado de trabalho e também atua realizando o primeiro contato com os familiares, os trazendo até a empresa para as entrevistas presenciais.

Os setores de atuação deles variam, desde áreas produtivas, administrativas e também nas áreas de suporte da divisão industrial realizando as atividades. “O trabalho deles é muito significativo e traz os resultados esperados pela organização”, afirma.

Charline destaca que ter colaboradores com deficiência é muito desafiador, tanto para a empresa quanto para o time de funcionários. “Tendo em vista essa oportunidade eminente, a São José Industrial possui um programa institucional chamado COMVIDA, que tem como propósito promover a diversidade e inclusão dentro da empresa. É um programa humanizado que vai muito além do cumprimento das cotas exigidas. Ele propicia o desenvolvimento das pessoas com deficiência, mas muito além disso, gera a cultura de pluralidade na organização.”

Sabendo da importância do acompanhamento e integração deles no ambiente de trabalho, a São José Industrial também conta com um sistema de apadrinhamento, sendo que todos as novas pessoas com deficiência recebem um padrinho – colega que é responsável pelo seu acompanhamento.

Oportunidade que gera realização profissional e independência financeira

A felicidade e a satisfação do aluno Alexandre Martens com o trabalho são compartilhadas pelos pais Rosane e Neldo Martens. Contratado pela John Deere há oito anos, Alexandre se diz realizado com a colocação no mercado de trabalho. “O Alexandre se adaptou logo no trabalho. Ele gosta muito e para nós isso é motivo de muita alegria! Nos ajudamos e ficamos mais tranquilos que ele tem uma boa colocação. É uma realização profissional e a oportunidade de independência financeira dele”, dizem.

Antes de ingressar na John Deere, Alexandre ajudava o pai em serviços de servente de pedreiro. “Mas quando finalizei o Ensino Médio, a Apae já me deu esta oportunidade. Lá na empresa, atuo como montador de plantadeira. Gosto muito de trabalhar na linha de produção. E pretendo crescer lá dentro”, declara Alexandre.

Em seu primeiro trabalho formal, Alexandre encontrou também amizades. Ele, inclusive, é colega de trabalho de outros alunos da Apae, com os quais já convivia. “Eu gosto de interagir com os colegas. Já fiz amizades sólidas lá!”

Alexandre mora com os pais, que são agricultores, e com os irmãos – Alex, de 25 anos, e Andressa, de 17 – em Lajeado Cachoeira, interior de Três de Maio. E diz que, por enquanto, não tem planos de sair de casa. Para chegar até o trabalho, se desloca até a parada de ônibus, de onde segue até a empresa juntamente com os colegas de serviço.

Desde março do ano passado, em função da pandemia, e por ser de grupo de risco, Alexandre está em casa, aguardando ansioso pela segunda dose da vacina para poder retornar ao trabalho com segurança. Em casa, ele aproveita o tempo auxiliando os pais nos trabalhos diários, lê bastante e adquiriu um hobby: andar de bicicleta.

Alexandre iniciou a caminhada na Apae com sete anos. Nos primeiros tempos estudava somente na Apae. Depois, passou a frequentar também outra escola, indo na Apae para as aulas no Atendimento Educacional Especializado em turno inverso. Até que passou a frequentar a Apae apenas uma vez na semana. Ele se formou no Ensino Médio e finalizou o Curso Técnico em Administração, enquanto já trabalhava.

No total, a John Deere conta com cinco colaboradores com deficiência oriundos da Apae de Três de Maio. Além de Alexandre, compõe o quadro de funcionários Cláudio Izolan, Maicon Flores dos Santos, Maurício Zimmermann e Renato Wünsch.

A Lojas Colombo de Três de Maio também contratou, recentemente, o aluno Eduardo Erte Soares. Ele aguarda as duas doses da vacina para iniciar o trabalho na empresa.

Inserção dos alunos no mercado de trabalho é uma das principais metas da diretoria apaeana

“Quando assumi a diretoria da Apae pela primeira vez, em 2011, juntamente com a equipe, uma das metas mais importantes era a valorização da pessoa com deficiência por meio de sua inserção no mercado de trabalho. Felizmente, hoje, comemoramos o sucesso do cumprimento disso, graças ao trabalho de excelência realizado pelo nosso quadro de colaboradores, que prepara o aluno para o mercado, dando as condições e acompanhamento para que ele se saia bem, afirma o presidente da Apae de Três de Maio, Vilson Foletto.

Na época, ainda era pequeno o número de alunos inseridos. Vilson diz que, em seu primeiro mandato, lembra-se que a parceria começou com a John Deere, de Horizontina, empresa que sempre valorizou a pessoa com deficiência. “Foi marcante a formatura de um curso interno lá, quando oito alunos nossos fizeram parte.”

Segundo ele, comemorar as 18 vagas de trabalho ocupadas hoje pelos assistidos da Apae é motivo de muito orgulho e também se deve à conscientização desenvolvida com empresários e empregadores. “Conseguimos transmitir à comunidade que nosso aluno também é importante”, revela.

Prova disso é a aceitação por parte das empresas, que valorizaram o trabalho e contatam quando precisam de colaborador com deficiência. “Nós mostramos para a comunidade que o nosso aluno é um ser humano igual a qualquer outro. E, por isso, pode trabalhar. E é importante reforçar que o sucesso disso é resultado de um trabalho em conjunto: Apae, aluno, família e empresa.”

O presidente da Apae acrescenta que, logicamente, às vezes o aluno contratado pode não corresponder à expectativa da empresa, por isso ocorrem altos e baixos. “Acredito que também é necessária certa sensibilidade por parte da empresa contratante, um olhar diferenciado à pessoa com deficiência. Nosso aluno é igual a outra pessoa, mas com as limitações dele. Ele dá grande valor ao trabalho e também quer progredir dentro da empresa. E acho que o que confirma isso é que, até hoje, não temos reclamações dos nossos alunos que estão trabalhando.”

Ao finalizar, Foletto destaca que, a cada ano, a instituição conta com mais alunos aptos a entrarem no mercado de trabalho. Por isso, o trabalho é contínuo. “Visamos a independência deste aluno. Ele precisa ir para o mundo, trabalhar, ajudar a família e ser valorizado. Por isso, agradecemos as empresas parceiras, que desde o início abriram suas portas para a inclusão dos nossos alunos. E convidamos as demais organizações para que abracem esta ideia, dando uma oportunidade às pessoas com deficiência.”

Fonte: Jaqueline Peripolli / Jornalista MTE 16.999
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