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19/02/2023 | 08:27 | Cultura

Apresentações neste fim de semana marcam os 110 anos da Banda Santa Cecília, de Nova Pádua

Conjunto musical mais antigo em atividade ininterrupta no Estado marca presença na 15ª Feprocol

Conjunto musical mais antigo em atividade ininterrupta no Estado marca presença na 15ª Feprocol
União de diferentes gerações tem ajudado a garantir a continuidade da banda formada em 1913, no então distrito de Caxias - Neimar De Cesero / Agencia

1913 foi um ano de respiro em meio a dois acontecimentos históricos: o naufrágio do Titanic ocorreu um ano antes, a Primeira Guerra Mundial iniciou no ano seguinte. Mas foi naquele ano que, na Serra Gaúcha, nascia em Caxias do Sul o Esporte Clube Juventude e também a Banda Santa Cecília, no então distrito caxiense de Nova Pádua (que depois viria a ser distrito de Flores da Cunha e só se tornaria município em 1992). Ainda em atividade, o conjunto musical mais antigo do Estado tem no compromisso de seus integrantes com o legado centenário uma das explicações para a longevidade.

– Nós não esperávamos vencer tantas barreiras do tempo. Tivemos nosso centenário, agora celebramos mais uma década cheia. Manter uma entidade filantrópica exige muita doação e o mundo de hoje, por outro lado, exige que as pessoas trabalhem cada vez mais. Nosso orgulho e nossa satisfação se renovam em datas como essa, por poder carregar conosco a história que essa banda construiu nestes 110 anos – destaca a presidente da banda, Rita Cristina Peccati, também pandeirista e uma das vozes do conjunto.

A família Peccati é um dos sobrenomes mais recorrentes na atual formação. Além de Cristina, participam da Santa Cecília seus irmãos Lino e Nestor, sendo que todos eles têm seus filhos entre os instrumentistas. Nestor, mais velho dos três irmãos, já soma 52 anos de dedicação à banda, a maior parte deles tocando a tuba, mesmo instrumento do pai.

– Nosso pai era músico da banda e nos incentivava a aprender algum instrumento e a participar. Principalmente porque, 50 anos atrás, vivendo no interior, a gente não tinha tanta opção de divertimento, nem tanta oportunidade de viajar e de conhecer outras pessoas. Tudo isso a banda nos proporciona, preenchendo a vida de bons sentimentos – comenta o tubista.

O surgimento da banda está intimamente ligado à agricultura, característica que se mantém nos dias de hoje: a maioria dos integrantes vive no campo e todos participam de forma voluntária (algumas ações movidas pela própria banda ou entidades parceiras ajudam a bancar os custos). Por volta de 1910, um grupo de trabalhadores rurais decidiu formar uma banda para poder compartilhar de momentos de alegria em meio a tantas horas de suor e a toda a dificuldade da vida no campo, recordando canções da pátria que deixaram para trás. 

A formalização ocorreu em abril de 1913 e a apresentação inaugural ocorreu em frente à Igreja Matriz de Nova Pádua, sob a regência do maestro Alvize Parize e presidência do trombonista Benedetto Bigarella (avô do músico caxiense Ricardo Biga, harmonicista do Ária Trio). Foi no mesmo local onde nesta semana a Banda Santa Cecília voltou a se apresentar durante a Feira de Produtos Coloniais (15ª Feprocol), festa que em sua 15ª edição presta homenagem ao conjunto que é a expressão máxima da cultura local.

– É a banda Santa Cecília que leva o nome do município para além dos seus limites. A banda é Nova Pádua e Nova Pádua é a banda– avalia Lino Peccati, músico autodidata e que desde 1977 é regente da banda, sendo apenas o oitavo a ocupar esse posto.

Para o maestro, que por conta do ofício tem no seu vocabulário muito presente a palavra “harmonia”, é essa mesma palavra que explica o fato da banda se manter ativa há tanto tempo:

– Eu sempre digo para a banda que a gente precisa ter harmonia musical para agradar ao público, mas também ter harmonia entre nós. É uma segunda família, que passa muito tempo junta e que está unida pela vontade de dar sem receber.

Tendo como algumas de suas premissas ajudar na divulgação da cultura vêneta e na preservação do dialeto talian, a Banda Santa Cecília dedica a maior parte do seu repertório às músicas folclóricas italianas, como Mérica, Mérica, O Sole Mio e Quel Mazzolin di Fiori. Também em italiano o grupo apresenta a homenagem Nova Pádua Bella Cittá, composta por Lino Peccati. Mas os músicos também transitam pelas músicas regionais gaúchas, animando o público com clássicos como Querência Amada, de Teixeirinha, e Castelhana, de Elton Saldanha e Rui Biriva. 

COMPROMISSO COM A HISTÓRIA

Para uma banda que se propõe a ser a trilha sonora para o município de 2,5 mil habitantes, contudo, não basta estar presente apenas nos momentos de festa. Pelo contrário. A maior parte das apresentações da Banda Santa Cecília se dão em eventos religiosos, mantendo uma intrínseca ligação com a fé da comunidade e também de localidades vizinhas.

– Dificilmente tu irás encontrar uma família de nova Pádua que nunca tenha tido um evento ao qual a banda esteve presente. Seja na alegria ou na tristeza, numa data marcante, a banda fez parte da vida da população, que reconhece isso – conta Cristina Peccati.

Ao longo de sua trajetória a banda coleciona homenagens, como a que recebeu na Assembleia legislativa do Estado no ano do seu centenário, com direito a apresentação ao vivo no plenário. Voltar a estar no centro das atenções durante a 15ª Feprocol traz um sabor a mais, que é o da garantia de continuidade que se dá em grande parte pela renovação. Cada músico que entra na Santa Cecília, como é o caso do percussionista Luiz Carlos Marcante, 26, cujo tio é saxofonista na banda, sabe da responsabilidade que é carregar um legado centenário a cada apresentação. Mas é isso que motiva a deixar de lado momentos de lazer para cumprir com a agenda musical como uma missão:

–  Eu não tocava nenhum instrumento, mas a banda tinha a necessidade de alguém para tocar o bumbo e eu fui aprender, com 14 anos, movido por essa noção de que é preciso ajudar a dar sequência a essa história tão bonita e a divulgar o município de Nova Pádua.

Integrante da banda desde os oito anos, a saxofonista Aline Peccati, 28, filha do maestro Lino, compartilha do mesmo sentimento do colega do bumbo. Para Aline, tocar na banda é uma missão que os mais jovens cumprem com o mesmo prazer que aqueles que vieram antes:

– Nos primeiros anos eu tinha pouca noção da importância da Santa Cecília para Nova Pádua. Tinha aquele interesse de criança e adolescente que quer estar com os amigos, e muitos da minha idade tocavam também na banda. Conforme o tempo passa e a gente precisa fazer escolhas, eleger prioridades chega a ficar um pouco balançado. Mas quando a gente se dá conta da responsabilidade em ser o futuro dessa instituição, é como se não tivesse maneira de voltar atrás. E o reconhecimento que a gente tem faz tudo valer a pena.

Para quem quiser conferir de perto a Banda Santa Cecília, o conjunto ainda fará três apresentações no palco principal da 15ª Feprocol, cujo tema este ano é “Uma Festa com Ritmo de Alegria”. Neste sábado, às 11h, no palco principal do evento, em frente à Igreja Matriz; no domingo, às 8h, durante a missa em talian na Igreja Matriz; e na próxima sexta-feira (24), às 18h, novamente no palco principal. Toda a programação do evento é gratuita.

Fonte: GZH
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