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02/06/2023 | 05:39 | Geral

O que explica o avanço de 1,9% do PIB no primeiro trimestre

A performance, divulgada nesta quinta-feira (1º), é fruto de uma elevação de 21,6% na agropecuária e também do acréscimo de 0,6% nos serviços

A performance, divulgada nesta quinta-feira (1º), é fruto de uma elevação de 21,6% na agropecuária e também do acréscimo de 0,6% nos serviços
Agronegócio respondeu por 1,7 ponto - Grégori Bertó / Palácio Piratini / Divulgação

Com o melhor desempenho da agropecuária desde 1996, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro avançou 1,9% no primeiro trimestre de 2023, quando comparado aos três meses imediatamente anteriores. Na comparação com o período verificado entre janeiro e março de 2022, a atividade econômica nacional cresceu 4%. Com isso, no acumulado em 12 meses, o indicador — que aponta a soma dos bens e serviços produzidos no Brasil — chegou a R$ 2,6 trilhões e registra alta de 3,3%, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).  

A performance, divulgada nesta quinta-feira (1º), é fruto de uma elevação de 21,6% na agropecuária — cujo peso é de 8% na composição dos dados — e também do acréscimo de 0,6% nos serviços, que têm a maior representação (mais de dois terços) no PIB no primeiro trimestre deste ano sobre o último de 2022. Na relação com os três primeiros do ano passado, os avanços foram de 18,8% e 2,9%, respectivamente. 

Já a indústria reflete quadro de estabilidade (-0,1%). As explicações, nesse caso, passam pela queda nos bens de capital e na indústria de transformação. Na comparação com o período encerrado em março do ano passado, o setor apura crescimento exponencial apenas no segmento extrativista (7,7%, puxado pela alta do petróleo), por exemplo.  

Na ponta do lápis, o economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank, informa que sozinho o agronegócio respondeu por 1,7 ponto percentual do resultado. Ele lembra que, com exceção do período mais crítico das restrições, em razão da pandemia, a difusão de 1,9% corresponde a maior variação trimestral desde 2010. 

— É algo muito forte para a economia nesse período, e o que vem do agro tende a transbordar para os outros ramos — resume Frank.  

O economista e coordenador de contas nacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e um dos autores do Monitor do PIB da instituição, Cláudio Considera classifica o desempenho como positivo. Mas chama a atenção para o aumento da dependência do agronegócio.  

Esse fator também fica evidenciado pela declaração da coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, quando afirma que os “problemas climáticos que impactaram negativamente a Agropecuária ano passado”, nesse ano geram uma “previsão de safra recorde de soja”, o que representa aproximadamente 70% da lavoura nacional no trimestre passado.  

— A safra da soja é concentrada no primeiro semestre do ano. Ao compararmos o quarto trimestre de um ano ruim com um primeiro trimestre bom, observamos esse crescimento expressivo — analisa.  

Estímulo e dependência 

Por essa razão, o economista da FGV avalia que mesmo o desempenho dos serviços está associado ao meio rural. Isso ocorre porque, ao abrir os relatórios setoriais, é possível perceber que o maior crescimento veio dos transportes (relacionado ao escoamento dos grãos) e ficou em 1,2% na comparação com o trimestre imediatamente anterior e 5,1% na relação com os primeiros três meses do ano passado.   

Por outro lado, Considera identifica que o desempenho negativo da indústria obedece à mesma lógica, só que, desta vez, o setor não demonstra reação aos estímulos da safra. Ele lembra que o segmento de transformação envolve o processamento do óleo de soja e também os abetes de bovinos, suínos e aves, mas "estranhamente", os impactos não ficam aparentes.  

— O resultado gera indica crescimento e uma melhora na atividade econômica, embora o setor mais importante que é a indústria de transformação tenha caído (0,9%) enquanto outras crescem. O problema é que isso se repete ao longo de muitos meses e denota que ela não tem respondido ao agro — lamenta.   Primeira divulgação sob comando da equipe econômica de Lula 

O PIB de janeiro a março também demarca a primeira divulgação durante essa que é a terceira gestão de Luiz Inácio Lula da Silva na presidência do país. Para os economistas consultados por GZH, entretanto, ainda é cedo para apontar as marcas do atual governo no desempenho, e a participação da nova condução econômica é pouco influente.   

— Eu diria que essa influência é próxima de zero. Até porque a safra foi plantada no ano passado e a agricultura não é uma atividade em que se possa instituir um terceiro turno de produção (semelhante ao que pode acontecer na indústria), porque é necessário atender a uma demanda aquecida — ironiza Mauro Rochlin, doutor em Economia pela UFRJ e Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV/Ibre).  

Mas, para o economista-chefe da Federação da Agricultura do RS (Farsul), Antônio da Luz, há da parte do governo Lula o que chama de “pequena participação” negativa. Ele aponta que a queda nos investimentos de 3,4% em relação ao trimestre anterior, sem que tenham sido registradas mudanças na taxa de juros no período, sinaliza uma “desconfiança com o futuro”.

O economista da UFRGS Marcelo Portugal diz que existem duas avaliações possíveis. A negativa é de que o crescimento do PIB está restrito a melhorias climáticas que turbinaram a safra. A positiva é de que mesmo que fossem extraídos do resultado os 21,6% correspondentes à agropecuária, o PIB teria crescimento na casa de 0,52%. A permanência dessa taxa, quando anualizada, argumenta daria uma alta superior a 2% ao ano.  

— Essa é a média do crescimento do PIB nas últimas três décadas. Ou seja, ruim não está. E destaca dois elementos: o consumo das famílias e do governo, que se mantém no campo positivo e tende a permanecer assim, porque o arcabouço fiscal autoriza gastos do governo e o mercado de trabalho se mostra mais resiliente, gera vagas e mantém as massas salariais ativas e consumindo — projeta.  

Fonte: GZH
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