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18/06/2023 | 19:32 | Geral

Moradores de Caraá relatam como enxurrada tomou conta da cidade, destruindo prédios, estradas e até o cemitério

Enchente, principalmente do Rio dos Sinos, teria atingido até três metros em pouco tempo

Enchente, principalmente do Rio dos Sinos, teria atingido até três metros em pouco tempo
Carro ficou sobre túmulos no cemitério - Pedro Freiberger André Ávila / Agencia RBS

Nem os mortos de Caraá foram poupados pela fúria impiedosa da natureza. Conhecido como "berço das águas" por abrigar quatro arroios e dois rios, o município de 8 mil habitantes no Litoral Norte teve o cemitério Pedro Freiberger dilacerado pelo ciclone extatropical que varreu a faixa nordeste do Rio Grande do Sul a partir da noite de quinta-feira (15)

O campo santo, até então um local bucólico a cerca de sete quilômetros do centro, está em ruínas. Os túmulos foram violados pela correnteza que transbordou do Rio dos Sinos. As lápides estão quebradas. As capelas, caídas, e os caixões, mergulhados numa água barrenta.

Em meio ao lamaçal que deixou os corredores intransitáveis, o vento e a chuva espalharam pesados blocos de mármore e frágeis flores de plástico. Sobre o que restou dos túmulos, há galhos de árvores, pedaços de ferro, fotografias enxarcadas e restos mortais.

Isolada pela barreiras na estrada desde sexta-feira, a aposentada Luiza Ramos da Silveira, 64 anos, só conseguiu sair de casa na tarde deste domingo (18). A primeira parada foi no cemitério, para saber se estava tudo bem no descanso final dos pais, do marido e do filho.

— Que coisa horrível toda essa destruição. No túmulo dos meus pais, a capela caiu, se desmanchou. No meu marido e meu filho, está cheio de barro. Não tem nada mais triste que isso — desabafou.

Morando diante do cemitério, o motorista Rodrigo Meller, 43 anos, testemunhou a inundação. Segundo ele, a enchente no local superou três metros de altura. Quando o Rio dos Sinos começou a subir, por volta das 19h de sexta, ele correu para tirar do pátio os veículos da empresa de transporte da família. Mal conseguiu levar um ônibus, um microônibus e uma van até um terreno elevado antes de a água tomar conta da rua.

— Eu moro na beira do rio, mas a água não veio só daqui de trás. Veio lá de cima. Os arroios todos transbordaram, levando tudo pela frente — lembra Meller, enquanto limpava móveis e tentara tirar a lama acumulada dentro de casa.

O cenário é semelhante em toda a Estrada Lindolfo Fofonka, que liga o Morro da Borussia, em Osório, até o centro de Caraá. Nos trechos despovoados, praticamente não há vegetação em pé. Do pasto mais ralo a árvores de três, quatro metros, tudo foi deitado pela enxurrada que invadiu os campos.

Quando surgem os casarios no horizonte, os móveis estão na rua, as cercas viraram varais e os moradores tentam aproveitar as horas de sol para limpar, secar ou consertar o que um dia foi mobília e vestuário.

O motorista de aplicativo Anderson Geronimo nem sequer teve essa chance. A casa dele foi totalmente destruída pelo ciclone. Nenhuma parede restou em pé. Portas, janelas e telhas foram jogadas a 500 metros do terreno. O contrapiso foi arrancado, deixando as fundações à mostra. Num canto do banheiro, o vaso sanitário foi a única coisa que ficou presa ao chão.

Geronimo e a mulher estavam na casa de parentes, em Santo Antônio da Patrulha, quando o tempo começou a virar. Por volta das 19h, ele foi até a residência ver se estava tudo bem e retornou para os familiares. Às 21h, telefonou para um vizinho pedindo que desligasse a energia elétrica. A resposta foi desoladora: não dava mais tempo. Estava tudo embaixo d'água.

Fonte: GZH
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