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24/10/2023 | 06:30 | Geral

Preço da carne recua 7,34% na Grande Porto Alegre com aumento na produção e renda prejudicada

Carnes menos nobres apresentam a maior queda nos valores, levando em conta os últimos 12 meses até setembro, segundo dados de inflação

Carnes menos nobres apresentam a maior queda nos valores, levando em conta os últimos 12 meses até setembro, segundo dados de inflação
Região Metropolitana não teve grande redução no consumo, por isso preços da carne também tiveram menor redução - Anselmo Cunha / Agencia RBS

Após atingir altas expressivas em um passado recente, o preço da carne segue em queda na região metropolitana de Porto Alegre. Um dos itens mais importantes na mesa das famílias brasileiras, o produto acumula queda de 7,34% em 12 meses fechados em setembro na Grande Porto Alegre, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país. Essa é a única queda nesse recorte de tempo olhando um intervalo de cinco anos. 

Inversão no ciclo de produção, com mais produto no mercado, queda na procura e recuo nos custos para a pecuária estão entre os principais fatos que explicam esse movimento, segundo especialistas. 

O dado do IPCA é composto, principalmente, por cortes bovinos, mas também leva em conta a carne suína. No país, entra também a carne de carneiro. O movimento observado na Região Metropolitana segue o retrato observado na média nacional. No entanto, a retração no país ocorre com mais fôlego (veja no gráfico). Na Grande Porto Alegre, cortes menos nobres, como paleta e acém, estão entre os itens com maior queda. Já a costela e a picanha, que marcam presença constante no churrasco do gaúcho, apresentam recuos mais tímidos.

O economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, afirma que o principal fator que explica a baixa no valor da carne é o ciclo de produção. O aumento na produção observado nos últimos anos somado ao abate de fêmeas, que injeta mais produtos no mercado, diminui o preço na prateleira diante de mais oferta, segundo o economista: 

— O preço subiu porque estávamos no ápice do menor abate de fêmeas e o preço despencou porque atingimos o pico do alto abate de matrizes. Isso fez o preço cair.   

O economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), também elenca o aumento na produção como um dos principais fatores nesse processo. Além desse ponto, a redução nos custos de produção também diminui a pressão sobre o valor da carne, segundo o economista: 

— No Brasil, em algumas regiões, o produtor precisa complementar o alimento do animal com rações à base de soja e de milho. Isso por causa de condições climáticas adversas. E essas commodities apresentaram queda de preço nos últimos meses. Então, você tem também custos menores que ajudam a cadeia produtiva a não passar aumentos de preço. 

Braz afirma que, mesmo em queda, olhando um período mais recente, o preço da carne não vai retomar os patamares observados no pré-pandemia. O economista destaca que o produto ainda carrega uma gordura de elevações nos últimos anos, mas apresenta retração em um período mais recente.

Queda no consumo
O coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro), da UFRGS, professor Júlio Barcellos, cita que queda de demanda por carne bovina também afetou os preços recentemente: 

— Houve uma tentativa de reduzir margens no varejo para estimular o consumo. 

Em relação ao preço da carne ter caído menos na Grande Porto Alegre ante o país, Barcellos cita diferenças no perfil. A Região Metropolitana não apresenta tanta redução de consumo em razão do poder aquisitivo na comparação com a média nacional. Isso faz a queda no valor ser menor aqui, porque a demanda recua menos.

O que explica a queda no preço da carne

  • O principal motivo está ligado ao ciclo pecuário. Durante parte da pandemia, a alta no preço do boi e a retenção de fêmeas para aumentar a produção elevou o valor da carne. Esse ciclo inverteu-se em 2022 e atingiu o pico em 2023, com abate de fêmeas aumentando ainda mais o número de produtos no mercado. Isso diminui o preço dessa proteína diante da oferta e procura. 
  • A queda do poder aquisitivo da população de renda menor, com endividamento e inadimplência em alta, diminui o consumo de alguns cortes de carne. Isso também afeta o preço do produto, que precisa diminuir para alcançar público maior. 
  • A queda nas exportações também influencia na queda do preço, mas com peso menor. Isso porque, entre outros motivos, o produto exportado não tem as mesmas características do item consumido no mercado interno. Então, essa relação não tem muita força. 
  • Os custos de produção, que atingiram picos durante a pandemia, começaram a se acomodar nos últimos meses. Isso também ajuda a reduzir o valor para o consumidor final. 
  • Essa tendência de preço menor deve seguir pelo menos até o primeiro trimestre de 2024, segundo o economista-chefe da Farsul.
Fonte: GZH
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