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08/11/2023 | 05:08 | Geral

Menos babás e mais cuidadores de idosos: especialistas discutem os desafios do envelhecimento da população gaúcha

Parcela das pessoas acima dos 60 anos cresceu 50% em 12 anos no RS, segundo o Censo Demográfico 2022

O envelhecimento da população do Rio Grande do Sul é um desafio que precisa ser enfrentado com a ampliação de políticas públicas e dos cuidados da sociedade com os mais velhos. Especialistas dizem que cada vez mais será necessário criar espaços para receber idosos, além de inseri-los no mercado de trabalho e estabelecer formas de promover a segurança financeira do grupo.

No Estado, a parcela das pessoas acima dos 60 anos cresceu 50% em 12 anos: um em cada cinco moradores era idoso em 2022, quando foram coletadas as informações do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O RS é também o Estado mais velho entre as unidades da federação, segundo o mesmo estudo.

João Senger, geriatra e diretor do Instituto Moriguchi, diz que as políticas públicas no Brasil estão “atrasadas” frente às demandas do envelhecimento da população. Pensar nos idosos não é uma exigência futura, mas do presente, ele diz:

— Precisaremos cada vez menos de babás e mais de cuidadores de idosos, menos creches e mais instituições de longa permanência para idosos.

O envelhecimento não é o único desafio para os próximos anos. Isso porque os casais gaúchos têm tido menos filhos nas últimas décadas, o que origina famílias menores. No censo de 1970, por exemplo, a taxa de fecundidade por mulher no Rio Grande do Sul era de 4,3 filhos; no levantamento de 2010 caiu para 1,7. A taxa de fecundidade é o número médio de filhos nascidos vivos tidos por mulheres de 15 a 49 anos. O índice do censo de 2022 ainda não foi divulgado.

— Quem vai cuidar da gente quando formos idosos? Temos de começar a pensar onde vamos ficar (na velhice). Quem tem dinheiro pode contratar um cuidador, mas é uma parcela pequena da população que pode pagar por isso. A maioria não tem. Muitos não terão filhos, outros terão um. Temos de pensar em políticas públicas para organizar isso, ter programas como os que há em países da Europa que já estão “envelhecidos” há mais tempo — acrescenta o geriatra.

Cleide Moretto, economista e professora do Programa de Pós-Graduação em Envelhecimento Humano (PPGEH) da Universidade de Passo Fundo (UPF), concorda que o Brasil está em desvantagem em relação ao planejamento para o envelhecimento populacional na comparação com os países ricos.

No entanto, ela destaca que há uma série de programas e ações de proteção social que diferenciam o país, de forma positiva, dos vizinhos da América Latina: o Estatuto da Pessoa Idosa e o Benefício de Prestação Continuada (BPC) previsto na Lei Orgânica da Assistência Social — que garante um salário-mínimo por mês ao idoso com idade igual ou superior a 65 anos — são exemplos disso.

— A existência de um programa mínimo de garantia de renda ameniza os efeitos de uma sociedade que envelhece em meio à pobreza, aos baixos rendimentos e aos índices elevados de desigualdade social. Quando acrescentamos a estrutura do Sistema Único de Saúde, ao permitir o acesso aos serviços de saúde e ao fornecimento gratuito de medicamentos, os benefícios às pessoas idosas ficam ainda mais evidentes — pontua.

A estudiosa acrescenta que o grande desafio para atender ao envelhecimento populacional é garantir o “pertencimento a uma sociedade com padrões mínimos de qualidade de vida”. Nesse contexto, o mercado de trabalho é um motivador de inclusão social e produtiva ou mesmo de contrapartida para uma sociedade que vê a base da pirâmide da população economicamente ativa diminuir, com consequências do ponto de vista previdenciários, segundo Cleide.

— Há espaço para ampliarmos ações no âmbito das empresas, de programas de formação continuada, de ações de flexibilização em jornadas de trabalho, de estímulo ao trabalho de equipes intergeracionais, pois a união das diferentes competências potencializa os resultados positivos. E fortalecer o espaço para as pessoas mais velhas no mercado de trabalho implica superar estigmas, preconceitos e o etarismo nos diferentes espaços de trabalho e de vida — diz a professora da UPF.

Para Leandro Minozzo, geriatra e professor da Universidade Feevale, nem o RS nem o Brasil estão preparados para o envelhecimento populacional, ainda que a tendência de aumento de idosos seja conhecida da sociedade há anos.

— O envelhecimento é pouco debatido. Até pouco tempo, a única pauta sobre idosos era que eles eram um peso para a sociedade pela questão da previdência. Penso que passamos da hora de municípios, Estados e o governo federal começarem a abordar o tema de maneira resolutiva — diz.

Minozzo define a Lei da Pessoa Idosa como “fantástica” e elogia a criação do Plano Estadual de Cuidado Integral em Demências como uma das iniciativas que pode ajudar o grupo no RS. Ele, porém, diz que, no momento, o país e o Estado precisam de mais ações práticas do que de leis.

— As pessoas idosas demandam acesso à saúde, com consultas com tempo adequado e profissionais capacitados, acesso à educação ao longo da vida, como as universidades abertas da terceira idade e oportunidade de empregos adaptados. Também é importante a criação de espaços de convívio e lazer para superar a solidão — exemplifica o geriatra.

Fonte: GZH
Parcela das pessoas acima dos 60 anos cresceu 50% em 12 anos no RS, segundo o Censo Demográfico 2022
Censo 2022 indicou que 20% da população gaúcha com 60 anos ou mais. - sergign / stock.adobe.com
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