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04/03/2024 | 07:39 | Geral

À espera de lares definitivos, famílias dependem de abrigo e aluguel social em Encantado

Desabrigados apostam em uma solução concreta após a doação de um terreno pela União ao município, que será usado para a construção de cem casas destinadas aos moradores afetados

Desabrigados apostam em uma solução concreta após a doação de um terreno pela União ao município, que será usado para a construção de cem casas destinadas aos moradores afetados
Helena Pereira é outra moradora que sonha com uma residência fixa. Jonathan Heckler / Agencia RBS

Na cozinha de uma escola desativada de Encantado, um sofá grande de quatro lugares divide espaço com um fogão industrial, geladeira e roupas ainda empacotadas. Uma divisória de madeira separa o que seria a sala de um quarto, onde Romário e Márcia vivem com os seis filhos desde que a segunda enchente atingiu o Vale do Taquari. A família havia perdido tudo no desastre de setembro, e ainda estava sem casa quando um segundo transbordamento do Rio Taquari atingiu o município.

— A gente, eu e as crianças, dorme tudo pelo chão, uns não tem cama ainda. Algumas coisas aqui eu juntei do barro na segunda enchente né? A gente tava levantando, faceiro. Mas nós perdemos. Essa segunda enchente ainda foi diferente, foi bem abatido. Ainda tá abatendo nas nossas almas o sentimento — lamentou Márcia de Oliveira Tavares, de 35 anos.

Nas demais salas de aula da antiga Escola Municipal Tancredo Neves, no bairro Lago Azul, outras 12 famílias vivem pelo mesmo período, a maioria com crianças. Cada sala serve como uma espécie de apartamento, para garantir o mínimo de privacidade, embora os banheiros ainda sejam compartilhados.

Neste local, estão pessoas que não conseguiram nenhum imóvel através do aluguel social, nem acomodação em casa de amigos e familiares, e que agora esperam uma definição de um lar temporário.

Viver em um ambiente compartilhado exige regras e adaptações na rotina das famílias. Ainda que informalmente, o casal exerça uma função como de síndico do abrigo. E isso envolve o contato com as autoridades, bem como administrar eventuais problemas internos.

— A gente tá aqui, dependendo deste lugar onde tem bastante família. Estamos em 13, e a gente vai tentando, vai driblando, contornando e vai passando. Mas não é fácil, tem dias aí que tem bastante movimento — contou Romário Borges, aposentado.

O casal recorda que antes da enchente vivia em uma casa alugada, próxima do abrigo. A estrutura, segundo eles, foi totalmente destruída. Desde setembro, a família já passou por ginásios, antes de chegar na escola.

— A gente espera uma resposta. Tá pra sair essas casas aí, pra gente ser contemplado, e ver se as coisas melhoram. Tem bastante conversa, até essa semana que passou a gente recebeu umas fotos de um terreno que o município recebeu. Vamos ver se vai sair da foto, a gente tem esperança que saia e melhore — completou Romário, que também é cadeirante e necessita de espaços acessíveis.

O anúncio que animou a família de Romário e Márcia foi feito na semana passada, pela prefeitura de Encantado. O Executivo informou que recebeu um terreno por meio do programa de Democratização de Imóveis da União.

Esses imóveis são cedidos às prefeituras em projetos aprovados estabeleçam a nova finalidade dos espaços, como moradia popular, atividades esportivas, educação e cultura. No caso de Encantado, a área de quase 35 mil metros quadrados no bairro São José será usada para a construção de cem casas destinadas aos moradores afetados pelas enchentes, sem nenhum custo para os beneficiados, por meio do programa Minha Casa, Minha Vida - Calamidade 2.

O município também confirmou a construção de 80 apartamentos em um condomínio vertical no bairro Navegantes.

Aluguel social

Apesar de viver em uma casa através do aluguel social, Helena Pereira é outra moradora que sonha com uma residência fixa através do programa. A casa alugada onde ela vivia antes da primeira enchente foi condenada. No dia 1º de novembro, se mudou para a residência atual, por meio do programa social. Dias depois, a casa seria mais uma vez atingida pela cheia de novembro e tudo se perdeu.

— Tem gente que tá no abrigo que tá em situação pior. Tô numa casinha melhor, mas só que aqui a gente tá na beira do rio. Se vier uma enchente, eu vou precisar de ajuda. Como é que eu vou sair com as crianças e com todas essas coisas de arrasto? — questionou Helena, ao recordar da segunda enchente, quando saiu desta casa grávida de oito meses com água na altura da cintura.

filha mais nova, Ana Pereira, nasceu poucos dias depois, quando Helena ainda estava abrigada em um ginásio. A auxiliar de produção ainda tem outros quatro filhos, de 14, 12, 10 e dois anos de idade. Todos vivem apenas com ela, que atualmente está em licença maternidade do trabalho de auxiliar de produção.

Fonte: GZH
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