Logomarca Paulo Marques Notícias

01/05/2024 | 07:30 | Geral

Os últimos dias de Ayrton Senna: como foi o trágico final de semana da morte do ídolo

Na curva Tamburello do autódromo de Ímola, na Itália, o tricampeão de Fórmula 1 morreu ao bater o carro em uma velocidade de mais de 300 km/h. Na sexta e no sábado, dois acidentes nos treinos - sendo um com vítima fatal - anteciparam o que estaria por vir naquele triste domingo

Na curva Tamburello do autódromo de Ímola, na Itália, o tricampeão de Fórmula 1 morreu ao bater o carro em uma velocidade de mais de 300 km/h. Na sexta e no sábado, dois acidentes nos treinos - sendo um com vítima fatal - anteciparam o que estaria por vir naquele triste domingo
Senna em sua Williams antes da corrida, no dia 1º de maio. JEAN-LOUP GAUTREAU / AFP

Na noite anterior ao trágico dia 1º de maio de 1994, Galvão Bueno foi chamado para uma conversa com Frank Williams, fundador da equipe Williams. O diretor da escuderia questionou o narrador se ele iria jantar com Ayrton Senna como faziam antes das corridas. Havia uma preocupação por parte do dirigente sobre a participação do piloto brasileiro no GP de San Marino, por conta dos acidentes com Rubens Barrichello e Roland Ratzenberger – austríaco que acabou morrendo – nos treinos de sexta e sábado.

Em entrevista exclusiva para o Esporte do Grupo RBS, Galvão relembrou a resposta bem-humorada que deu a Williams.

— Vou. Se o senhor me liberar para eu não perder o jantar...

O chefe de Senna, então, perguntou quem iria jantar com eles. O narrador respondeu que os amigos de sempre se reuniriam para comemorar o aniversário de Josef Leberer, fisioterapeuta do piloto brasileiro entre 1988 e 1994.

— Bom que ele vai estar com os amigos. Mais uma coisa: você acha que ele vai correr amanhã? — questionou o dirigente.

— Mr. Williams, se passa pela sua cabeça que ele não vai correr amanhã, você não conhece o piloto que contratou. Ele vai correr e ganhar — afirmou o narrador.

Final de semana de tragédias

As dúvidas de Frank Williams em relação ao seu piloto surgiram pelo contexto trágico do final de semana. Na sexta-feira, Rubens Barrichello sofreu um acidente nos treinos que quase lhe tirou a vida.

— O Rubinho não morreu por um palmo. A notícia sobre seu estado de saúde só veio com o Senna, porque ele pulou o muro (ninguém tinha permissão para entrar no hospital). Ele falou que estava bem, com alguns machucados, mas bem — lembra Galvão Bueno.

Já no sábado, durante a classificação, Roland Ratzenberger também sofreu um grave acidente. Entretanto, o piloto da Simtek não sobreviveu ao impacto no muro da curva Villeneuve a 314km/h. O austríaco foi retirado do circuito de helicóptero e dado como morto no hospital de Bolonha.

O jornalista Lívio Oricchio, que estava trabalhando no final de semana pelo jornal O Estado de São Paulo, conta que mesmo após o acidente de Ratzenberger, os carros voltaram para a pista, mas Ayrton não.

— Ele não voltou, de tão abalado que ele estava. E não falou conosco (imprensa) — relata Lívio. 

O jornalista explica que Senna foi ao ambulatório após o acidente do austríaco para confirmar o que já suspeitava. O brasileiro saiu com os olhos marejados e consolado por um dos médicos. Depois, Ayrton ficou revoltado e foi ao local do acidente fatal para tentar descobrir o que poderia ter causado o acidente.

— A Fórmula 1 tem de ter uma culpa gigantesca nas costas. Para mim, para muita gente e para o Senna, inclusive, o Ratzenberger morreu na pista. Mas ele foi levado de helicóptero para o hospital. De acordo com a lei italiana, se decretasse a morte dele na pista, não teria corrida no dia seguinte e o Ayrton estaria com a gente aqui — afirma Galvão Bueno.

O carro não estava legal
O brasileiro estava insatisfeito com a McLaren, então aceitou a proposta da Williams, vencedora em 1992 e 1993, com Nigel Mansell e Alain Prost, respectivamente.

 — Todo mundo esperava que Senna fosse pilotar o melhor carro, ele merecia isso, mas o melhor carro comprovadamente era a Benneton, de Michael Schumacher — relembra Roberto Cabrini, que trabalhava como repórter da TV Globo.

Mesmo assim era esperado que a Williams tivesse um carro competitivo e com chances de Senna voltar a ser campeão mundial. Na primeira corrida da temporada, no Brasil, o carro do brasileiro rodou. Na segunda etapa, no Japão, Senna era pole, mas foi tirado da corrida logo na primeira curva. Na noite da prova, após não conseguir completar mais uma vez, Galvão relembra uma conversa que teve com o amigo.

— Cadê o carro que não é desse planeta? — perguntou o narrador ao piloto, que respondeu:

— Pois é, tem uns problemas, mas o principal é que o volante está muito pesado e o ângulo da coluna de direção está me atrapalhando para ver os instrumentos. Mas eu vou dar um jeito nisso.

Perspectiva de título
Ao final daquela temporada, Schumacher e Damon Hill — ex-companheiro do brasileiro — chegaram praticamente empatados na última prova na Austrália. Na largada da corrida derradeira, o alemão teve problemas e, vendo que não teria como continuar, jogou o carro para cima do britânico. Como resultado, os dois abandonaram e Schumacher venceu seu primeiro título mundial.

— Se o Damon Hill chegou até a última prova brigando pelo título, o Ayrton iria ser campeão caso não tivesse tido o acidente.

Um misto de emoções
O brasileiro e outros pilotos já vinham se reunindo antes da fatalidade ocorrida com Ratzenberger para propor à Federação Internacional de Automobilismo (Fia) mais segurança aos carros.

Apesar desse misto de emoções vivido por Senna naquele momento, o narrador garante que ele queria correr. Não apenas entrar na pista, o brasileiro desejava vencer para se recuperar no campeonato e também para prestar uma homenagem a Ratzenberger.

— Antes da corrida, estávamos só nós três. Eu, ele e o Julian Jacobs (empresário inglês de Senna). O Ayrton falou para o Julian: "Se vira, me arruma uma bandeira da Áustria, porque vou levar no carro comigo, ganhar a corrida e homenagear o Ratzenberger.

O acidente que parou o Brasil
Infelizmente, a homenagem não pode ser prestada pelo brasileiro. Na abertura da sétima volta do GP de San Marino, Senna liderava a prova, a frente de Michael Schumacher. Um safety car havia sido acionado no início da corrida e foi logo após a sua saída que o acidente aconteceu. Ao chegar na curva Tamburello, o carro do brasileiro passou reto, em uma velocidade de mais de 300km/h.

— Senna bateu e bateu forte. Eu tinha esperança de ele se levantar e sair ou tirarem ele do carro. Mas ele não saía — relembra Galvão, que estava transmitindo a prova ao vivo para a TV Globo.

Em determinado momento, as imagens mostraram um movimento na cabeça de Senna. Na vontade de dizer alguma coisa positiva e na torcida pelo amigo, Galvão narrou: "Senna mexeu a cabeça. Senna se movimentou."

— Hoje, eu tenho a certeza que aquele movimento foi o estertor da morte dele — conta.

Fonte: GZH
Na curva Tamburello do autódromo de Ímola, na Itália, o tricampeão de Fórmula 1 morreu ao bater o carro em uma velocidade de mais de 300 km/h. Na sexta e no sábado, dois acidentes nos treinos - sendo um com vítima fatal - anteciparam o que estaria por vir naquele triste domingo
Rubens Barrichello sofreu um acidente nos treinos da sexta-feira. CHRISTOPHE SIMON / AFP
Mais notícias sobre GERAL