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30/08/2023 | 18:17 | Geral

Diretor de regulação da Secretaria Estadual de Saúde do RS é afastado após reportagem do GDI

Em áudio que veio a público nesta quarta-feira (30), Eduardo Elsade orienta coordenador do Samu estadual para não advertir profissional que descumpriu horário

Em áudio que veio a público nesta quarta-feira (30), Eduardo Elsade orienta coordenador do Samu estadual para não advertir profissional que descumpriu horário
Reprodução internet

O diretor de regulação da Secretaria Estadual de Saúde (SES) do Rio Grande do Sul, Eduardo Elsade, foi afastado do cargo na tarde desta quarta-feira (30). A titular da pasta, Arita Bergmann, comunicou a decisão em coletiva de imprensa realizada na Expointer. Segundo o secretário da Casa Civil, Artur Lemos, o afastamento tem por objetivo tornar mais transparente a apuração dos fatos revelados pelo Grupo de Investigação (GDI) da RBS. Reportagens mostraram que médicos trabalhavam menos do que deviam na central estadual do Samu, comprometendo atendimentos de emergência.

— Nosso controle público falhou, pois não recebemos denúncias por nenhum de nossos canais oficiais — disse Lemos.

A diretora-adjunta da central de regulação estadual, Laura Sarti, ocupará o cargo que era de Elsade durante as investigações.

Na coletiva desta quarta, a secretária Arita ainda informou que todos os médicos citados nas reportagens seguem atuando. A exceção é Fabiane Andrade Vargas, que pediu demissão, conforme apurado pelo GDI. Ainda assim, a secretária de Saúde do Estado afirmou que será feita uma terceirização do atendimento, com uma empresa sendo contratada para fazer a regulação das ligações ao 192 na central estadual, que fica em Porto Alegre. Arita não especificou quantos médicos serão terceirizados, nem se eles atuarão substituindo outros profissionais ou complementando a equipe atual.

Um áudio inédito obtido pelo GDI mostra Eduardo Elsade alertando que uma médica que descumpriu horário não deveria ser advertida oficialmente. A mensagem foi enviada ao coordenador estadual do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), o médico Jimmy Luis Herrera Espinoza.

— Não tem advertência, tu podes no máximo chamar ela e dizer que passou para direção e a gente segurou — orienta Elsade na mensagem.

A profissional a quem o coordenador se referia na mensagem de voz era a médica reguladora Giordana Vargas Correa, citada na primeira reportagem publicada pelo GDI sobre o escândalo no Samu. Durante um período da madrugada do dia 6 de junho, ela era a única plantonista de um total de sete médicos escalados para trabalhar. Além de cumprir uma carga horária menor, ela simplesmente sumiu da mesa de trabalho entre 6h e 6h30min. Por 30 minutos, o Estado inteiro ficou sem atendimento de médico regulador via 192. 

O ex-enfermeiro do Samu, Cleiton Felix, que fez a denúncia do caso ao GDI, estava na central neste dia e conta:

— A única plantonista que se encontrava de plantão sumiu. Foi dormir, foi não sei onde, ela desapareceu do plantão. Até que ela voltou, depois que acabou o plantão, que aquele tumulto passou. Eu fiz uma comunicação direta as chefias e nenhuma conduta foi tomada.

Em entrevista ao GDI na semana passada, o diretor Elsade insistiu que havia aberto uma apuração:

— Nós estamos avaliando a situação do plantão (da médica Giordana).

Mas como a gravação obtida pela reportagem demonstra, nenhuma advertência foi aplicada. Em outro momento do áudio, Elsade ainda orienta que a médica Carla Baumvol Berger, a responsável pelo controle do ponto da central estadual do Samu em Porto Alegre, mantenha "o que vem sendo feito até hoje". E reforça que não deveriam ser aplicadas advertências ou procuradas filmagens onde os médicos supostamente apareceriam descumprindo horário:

— Fala com a Carla, nós vamos manter os ajustes desse mês. Ela vai lá, não muda nada, faz exatamente o que fez até hoje. E a partir do mês que vem nós vamos começar o ajuste do teletrabalho e controle. Tudo dentro do decreto do governador de teletrabalho. É isso que eu quero, não tem filmagem, advertência, etc. Até agora é a mesma coisa que a gente vem fazendo desde o início até hoje — diz Elsade na mensagem de voz enviada para Herrera.

Por telefone, o coordenador alegou que "manter o que vinha sendo feito até hoje" queria dizer manter os abonos no controle de relógio-ponto. Entre as justificativas usadas, apareciam "compensação autorizada" e "falhas no controle de relógio do ponto".

Após a divulgação das irregularidades pelo GDI, a secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann, afirmou que os médicos da central de atendimento do Samu serão fiscalizados por câmeras. Diante da citação de Elsade à "filmagem" dos profissionais, Arita foi questionada nesta quarta se este monitoramento por vídeo já existe. Ela respondeu que, se houver gravações, elas serão consideradas na sindicância aberta para investigar o caso.

— Usaremos sim o que tem disponível hoje. Iremos buscar todas as imagens gravadas em todos os momentos que a comissão sindicante achar relevante pra subsidiar as provas necessárias — garantiu a titular da SES-RS.

Contrapontos
O GDI entrou em contato com os citados nesta reportagem. Carla Berger, chefe da divisão de Regulação Médica do Samu, citada no áudio do diretor, disse que só vai se manifestar na sindicância aberta pela Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS) para apurar o caso.

O diretor Eduardo Elsade não se manifestou. A médica Giordana Vargas Correa também não respondeu ao contato do GDI.

O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) se manifestou sobre o caso. A entidade defendeu a categoria, em nota, dizendo que "não medirá esforços e atuará nas instâncias necessárias para a defesa dos profissionais que prestam atendimento qualificado à população gaúcha".

Veja a nota completa do Simers

"O Simers tem compromisso com a qualidade do atendimento médico prestado à sociedade gaúcha. Essa é uma premissa básica que orienta nossa vocação como entidade representativa dos médicos no RS.

Temos convicção de que há muitos médicos excelentes servindo ao SAMU. São profissionais que diariamente salvam vidas e que não podem ser penalizados pela possível conduta inadequada de alguns. E toda e qualquer irregularidade precisa ser apurada, com a justiça e amplo direito de defesa.

Há de se ter cuidado com indevidas generalizações para não penalizar quem se dedica a um trabalho tão intenso e emergencial para salvar vidas.

Independentemente dos fatos em análise, cabe ressaltar, ainda, o contexto vivenciado pelos servidores. Há relatos substanciais de que os profissionais trabalham numa estrutura inadequada e sem as devidas condições. Isso justifica a grande rotatividade e dificuldade de retenção dos médicos, tornando um serviço crítico, de grande responsabilidade, ainda mais penoso.

A própria Secretaria Estadual da Saúde (SES) já reconheceu que há problemas no serviço. E esses problemas precisam ser solucionados. O Simers se coloca à disposição para contribuir com iniciativas junto à SES e outros órgãos competentes no sentido de ajudar a encontrar caminhos para qualificar a prestação de serviços do SAMU. É dessa forma, buscando valorizar a categoria com melhores condições de trabalho, que poderemos avançar.

Por fim, o Simers reitera que não medirá esforços e atuará nas instâncias necessárias para a defesa dos profissionais que prestam atendimento qualificado à população gaúcha."

Fonte: GZH
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