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01/09/2023 | 05:42 | Geral

RS registra áreas livres de seca pela primeira vez desde novembro do ano passado

Apesar da melhora, o fenômeno climático segue afetando mais da metade do Estado

Apesar da melhora, o fenômeno climático segue afetando mais da metade do Estado
Segundo projeção inicial da Emater, o RS não deve enfrentar nova estiagem até 2024 - André Ávila / Agencia RBS

Depois de sete meses, o Rio Grande do Sul voltou a registrar áreas livres de seca. O dado foi divulgado pelo Monitor de Secas do Brasil, coordenado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). De acordo com o relatório mais recente, analisado por GZH, o fenômeno climático enfraqueceu de junho para julho.

Os dados mostram que o Estado registrou seca de intensidade extrema, que já atuava há seis meses e atingia 21,4% do território gaúcho, levando a grandes perdas de plantações e pastagens, além de restrições de água generalizada. Em julho, esse índice zerou. Os transtornos continuam sendo percebidos, mas de maneira menos severa.

— A seca, que antes era registrada em 100% da área do Estado, reduziu para 68%. E também houve um recuo da gravidade. Então, áreas com seca extrema passaram a ter seca grave e regiões com seca moderada passaram a registrar seca fraca. O nível de seca extrema, inclusive, deixou de existir nesse último mapa — observa Alessandra Daibert, coordenadora de Articulação para a Gestão de Eventos Críticos da ANA.

De acordo com a gestora, uma das explicações para essa mudança positiva se encontra no fim da atuação do La Niña, fenômeno caracterizado por um menor volume de chuvas no sul do Brasil. Em junho, após um período de neutralidade, o El Niño - que provoca mais chuvas - começou a atuar na região.

— A gente já começa a sentir os impactos do El Niño com esses dois meses de chuvas acima da média — complementa Alessandra.

Perdas no campo
Agricultor familiar de Dois Lajeados, no Norte gaúcho, Sadi Giacomin perdeu 60% na última safra, somando um prejuízo de aproximadamente R$ 120 mil. O motivo: a chuva não chegou em quantidade suficiente.

O produtor rural informou que, muito provavelmente, terá de realizar um financiamento rural, mas não sabe ainda se terá condições financeiras. São aproximadamente 5 hectares de milho crioulo, orgânico, sem uso de agrotóxicos e pesticidas, que ele transforma em farinha para venda, fora as plantações de feijão e aipim para subsistência.

Há 23 anos, ele participa da feira das agroindústrias na Expointer. Desta vez, não foi diferente. O agricultor pode ser encontrado no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio. Questionado sobre as perspectivas para o futuro diante das dificuldades impostas pelo clima, Sadi, que tem 59 anos de idade e desde os seis trabalha no campo, respondeu que não tem outra alternativa senão seguir em frente.

— Nós estamos tentando continuar produzindo do mesmo jeito. Eu, a esposa e os filhos, que às vezes estão em casa, às vezes não — relata. 

Agricultores em alerta
O cenário já representa a condição mais branda de falta de chuva no Rio Grande do Sul desde novembro de 2022, quando houve somente seca fraca e moderada. No entanto, apesar das precipitações mais recentes, algumas delas expressivas, a perda hídrica acumulada ainda não foi superada. A informação é do Sistema de Monitoramento e Alertas Agroclimáticos (Simagro-RS), que analisa o período prolongado de estiagem no Estado.

— Foi um momento totalmente atípico, raro de acontecer. Fazendo a avaliação de estações, que aqui no Estado acontece desde 1912, nunca houve o registro de três primaveras tão secas de maneira seguida — destaca Flavio Varone, meteorologista do Simagro.

As safras de verão, que incluem as culturas de soja e milho, por exemplo, sofreram grandes prejuízos nos últimos anos. Para que os reservatórios alcancem níveis considerados aceitáveis e o solo se recupere totalmente, Flavio afirma que será necessária uma primavera bem mais chuvosa. A preocupação, no entanto, existe com relação ao registro de transtornos.

— A primavera, quando ela é normal, já traz eventos severos. Com a projeção de um El Niño no mínimo de moderado a forte, quem sabe até superforte, isso pode intensificar as tempestades com muita chuva em curto período associada a vento extremamente forte e granizo.

O meteorologista acrescenta que a precipitação provocada pelo El Niño pode prejudicar também o fim do ciclo das culturas de inverno (trigo, aveia e cevada, por exemplo) e atrasar o início do plantio da safra de verão.

De olho no próximo La Niña
O monitoramento de relatórios como o que foi divulgado recentemente pode contribuir com a formulação de políticas públicas e uma preparação maior para novas ocorrências de La Niña. A ideia da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico é justamente essa: que os índices apresentados pelo Monitor de Secas se tornem gatilhos para medidas de gestão da seca.

— Esse é um dos grandes objetivos do monitor: auxiliar os órgãos tomadores de decisão nessas adoções de medidas mitigadoras para que eventos similares no futuro possam ter esses impactos minimizados — reforça Alessandra Daibert.

Segundo a coordenadora de Articulação para a Gestão de Eventos Críticos, a maior gravidade da seca registrada na Fronteira Oeste durante a atuação do fenômeno deve servir de parâmetro o futuro. Nas regiões que sofreram um impacto maior, já podem ser adotadas medidas preventivas para reduzir efeitos quando o La Niña voltar.

Qual a diferença entre seca e estiagem?
Termo bastante familiar para os gaúchos, a estiagem costuma ser frequentemente associada à seca. De certa forma, existe uma relação entre os dois fenômenos climáticos, mas elas não significam a mesma coisa.

Estiagem: é menos intensa que a seca; marcada pela redução significativa ou ausência de chuvas numa época do ano em que elas costumam ser registradas normalmente; o volume das reservas hídricas da superfície e do subsolo sofre uma redução acentuada, pois a perda de umidade do solo é maior que a sua reposição.

Seca: pode ser definida como a "versão crônica" da estiagem; caracterizada por ausência, escassez ou fraca distribuição de chuvas por um período extenso, provocando um grave desequilíbrio hidrológico; também possui impacto negativo nas atividades socioeconômicas e no meio ambiente.

Fonte: GZH
Apesar da melhora, o fenômeno climático segue afetando mais da metade do Estado
O produtor rural Sadi Giacomin e seu filho Jean expõem na Expointer o milho produzido em Dois Lajeados - Vanessa Albuquerque / FETRAF-RS/Divulgação
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