08/10/2024 | 05:16 | Política
Siglas de direita mostraram avanço no Estado, mantendo tendência de outros pleitos. Legendas mais à esquerda encolheram
Dados da eleição municipal de 2024 no Rio Grande do Sul mostram que uma tendência observada nos últimos pleitos segue no Estado. Partidos de direita ou centro-direita continuam dominando e avançando, conquistando o maior número de prefeituras gaúchas. Por outro lado, siglas mais à esquerda encolheram de um pleito para o outro.
A consolidação de mais legendas de direita no Interior e em grandes centros urbanos após a polarização observada nas últimas disputas eleitorais ajuda a explicar esse cenário, segundo especialistas.
O dado leva em conta os 492 municípios com definição no primeiro turno. Outras cinco cidades vão realizar segundo turno em 27 de outubro.
O PP mantém a liderança em números absolutos, com maioria dos prefeitos eleitos, e apresentou avanço. A sigla subiu de 143, em 2020, para 164 neste ano (veja gráfico abaixo).
Já o MDB segue na segunda colocação com 125 eleitos, mas recuou, perdendo nove prefeituras. No entanto, tem a chance de conquistar mais um ciclo no comando da Capital, com Sebastião Melo disputando a reeleição no segundo turno após votação expressiva.
Em termos proporcionais, um dos destaques do pleito atual é o PL. O partido do ex-presidente Jair Bolsonaro venceu em 36 cidades no Estado. Um avanço de 260% ante o total de 2020, quando foram 10. O PL ainda disputa o segundo turno em três grandes colégios: Caxias, Pelotas e Canoas.
Augusto Neftali, professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Ciência Política da Escola de Humanidades da PUCRS, afirma que o PL se consolidou como o partido que representa a linha política defendida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Nesse sentido, acaba ganhando espaço de siglas tradicionais em algumas regiões do Interior e em grandes centros urbanos:
— Isso coloca esses partidos mais tradicionais do Estado, em especial o MDB, numa posição pouco confortável, na medida em que o PL passa a ser, de fato, o partido que representa esse campo de direita, em oposição ao PT. Coloca o PSDB e o MDB, em certo sentido, como terceiras forças. Muda estruturalmente a forma como a política ocorre no Estado.
Outro partido de direita que tem poucas prefeituras, mas também apresentou salto expressivo é o Republicanos, que subiu de seis para 16 prefeituras de uma eleição para outra.
O cientista político e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Peres também afirma que o avanço de partidos como o PL e o Republicanos pode mostrar a consolidação da ideologia impulsionada pelo bolsonarismo dentro do âmbito partidário. Isso porque existe amadurecimento desse movimento dentro das siglas. Na avaliação do especialista, o cenário da eleição no Estado faz parte de uma tendência que ganha força para as próximas eleições:
— Então, acho que dá para antecipar isso. Vamos ter uma competição polarizada, mais radicalizada à direita, entre o PT e alguém. Mesmo se não for o Lula, será o PT e a outra força mais competitiva nessa polarização.
Olhando pelo lado da centro-direita, o PSDB conseguiu eleger candidatos em 33 prefeituras do Estado — seis a mais do que o registrado quatros anos antes.
Já o PSD, sigla com maior número de prefeituras no país nesta eleição, cresceu de cinco para 12 cidades no RS entre os dois períodos.
Já no âmbito da esquerda, o PT caiu de 23, em 2020, para 19 em 2024. Doze anos atrás, em 2012, o partido chegou a eleger prefeitos em 72 cidades. No pleito atual, as principais vitórias ocorreram em Rio Grande e Bagé. Além de Porto Alegre, a sigla ainda concorre no segundo turno em Pelotas e Santa Maria.
O movimento verificado no PT se espraia para outros partidos desse campo político. O PDT, que segue com maior número de prefeituras na esquerda, viu sua presença diminuir de 65, em 2020, para 50 no atual pleito. Já o PSB perdeu 10 cidades na comparação com o período anterior.
O cientista político e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Peres afirma que a esquerda é pressionada pelo avanço da outra ponta da polarização nos últimos anos:
— Olhando em conjunto, me parece que tem uma dinâmica aqui que está acontecendo na disputa para o governo estadual e até para a Presidência da República. Que é o crescimento desse nicho eleitoral da centro-direita e direita e o encolhimento, de maneira gradativa, da centro-esquerda. Como ilustra o dado do PDT.