08/11/2024 | 06:41 | Política
Legendas de centro mantiveram espaço, enquanto PDT recuou e PT governará apenas uma cidade
As eleições municipais de 2024 consolidaram o predomínio de partidos de direita em prefeituras da região metropolitana de Porto Alegre, que reúne cerca de um terço da população gaúcha. A partir de 2025, 19 dos 34 municípios desta área serão comandados por prefeitos de PL, PP, Republicanos e PRD, enquanto legendas mais à esquerda perderam espaço .
O crescimento da direita foi puxado pelo PL, que não havia conquistado nenhuma cidade em 2020 e neste ano saiu vitorioso em cinco. O feito ganhou ainda mais vulto com a vitória de Airton Souza em Canoas, segunda maior cidade da Grande Porto Alegre. Por sua vez, o Republicanos saltou de uma para três cidades de uma eleição a outra, enquanto o PP oscilou de 11 para 10 e o PRD (ex-PTB) manteve uma.
Partidos de centro, como MDB e PSDB, praticamente mantiveram o número de municípios governados, enquanto o PDT, que havia conquistado seis no pleito anterior, ficou com três. O PT, que comandava duas cidades, manteve apenas uma, e o PSB, que havia ganhado em duas, ficou sem nenhuma.
Entre os municípios com mais de 100 mil eleitores, três estarão sob a gestão do PL (Canoas, São Leopoldo e Alvorada), enquanto dois ficarão com o MDB (Porto Alegre e Cachoeirinha), dois com o PSDB (Gravataí e Viamão) e outros dois com o PP (Novo Hamburgo e Sapucaia do Sul).
Líder em prefeituras conquistadas na região, o PP combinou o bom desempenho em colégios de menor porte, como Arroio dos Ratos e Capela de Santana, à conquista de Novo Hamburgo, maior município sob comando do partido no Estado.
Por sua vez, o PT perdeu São Leopoldo, que era a fortaleza do partido na região, e ficará somente com a prefeitura de Nova Santa Rita. O cenário é distinto do que se observava na década passada, quando o partido do presidente Lula dominava prefeituras no eixo da BR-116, como Canoas, Esteio e Sapucaia do Sul.
Outra marca da eleição municipal na Grande Porto Alegre foi a alta taxa de continuidade, que superou os 70%. Dos 34 prefeitos, 25 conseguiram se reeleger ou fazer o sucessor.
Presidente da Associação dos Municípios da Região Metropolitana (Granpal), o prefeito reeleito de Guaíba, Marcelo Maranata (PDT), diz que, em sua maioria, o eleitorado metropolitano optou por um voto "seguro".
— O eleitor está buscando uma identidade com o candidato e com o que ele representa, mais do que com os partidos. Tivemos uma quantidade grande de reeleição porque o eleitor busca por segurança e decidiu votar em quem tinha algo para mostrar — aponta Maranata.
Avaliação semelhante é feita por Sebastião Melo (MDB), reeleito na Capital no segundo turno, para quem a alta taxa de reeleição se deu "menos por ideologia e mais por atitudes". Ao mesmo tempo, o prefeito pondera que o crescimento do PL está relacionado à mudança no voto do eleitorado das periferias.
— A periferia quer muito mais do que a política paternalista, quer liberdade econômica, quer liberdade tecnológica, quer liberdade de empreender, o cidadão quer ser dono do seu nariz. Talvez isso seja uma virada de chave, em que a esquerda ficou mais com o voto identitário e esse voto da periferia se deslocou para o centro ou para a centro-direita — aponta Melo.
A despeito do predomínio da continuidade, uma das vitórias da oposição simboliza o avanço dos conservadores. Em São Leopoldo, Heliomar Franco (PL) venceu o PT e comandará a prefeitura a partir de 2025.
O prefeito eleito, no entanto, rejeita o rótulo de "bolsonarista" e atribui a vitória ao projeto de governo apresentado à população:
— Boa parte dos eleitores às vezes votam em Bolsonaro, outras em Lula, e muitos acabam decidindo no dia. Nessa eleição esse centro pendeu para o lado da direita — afirma.
Juntos, os 34 municípios da Região Metropolitana abrigam 3,1 milhão de eleitores, o que equivale a 36% do contingente apto a votar no Rio Grande do Sul.
Os prefeitos ouvidos pela reportagem indicaram temas que exigirão atuação conjunta dos gestores municipais da Grande Porto Alegre no próximo mandato.
Acompanhamento das obras para contenção e prevenção de enchentes que serão financiadas pelo governo federal e conduzidas em conjunto com o governo estadual.
Integração de metodologias de ensino nas cidades da Região Metropolitana, para compartilhar experiências positivas e evitar perdas aos alunos em caso de migração de cidade.
Atuação conjunta para que os sistemas de ônibus e outros modais municipais sejam integrados aos dos demais municípios, a fim de ganhar eficiência e reduzir custos.
Atuação em prol da revisão do programa Assistir, do governo estadual, que mudou o formato de distribuição dos incentivos hospitalares. Prefeitos entendem que municípios da Grande Porto Alegre foram prejudicados com a alteração.