18/12/2024 | 16:33 | Polícia
Pelo segundo dia consecutivo, grupo criminoso, com berço na zona leste de Porto Alegre, foi alvo de ofensiva da Polícia Civil. Ao menos oito pessoas foram presas e seis armas acabaram sendo apreendidas
O grupo criminoso por trás da execução de um preso dentro da Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan), foi alvo nesta quarta-feira (18) de mais uma operação da Polícia Civil. O foco neste momento, segundo o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), é recolher armas, drogas, veículos, valores em espécie e prender envolvidos com a facção, apontada como a responsável pelo assassinato que gerou uma crise no sistema prisional gaúcho.
Jackson Peixoto Rodrigues, 41 anos, o Nego Jackson, foi morto a tiros dentro de uma cela da Pecan 3, em 23 de novembro. Antes do crime, o preso chegou a escrever uma carta alertando para o risco de ser mantido na mesma galeria que rivais. Dois apenados foram apontados como autores do homicídio: Rafael Telles da Silva, 36 anos, o Sapo, e Luis Felipe de Jesus Brum, 21 anos.
Sapo, identificado como um dos líderes do grupo, foi transferido para uma penitenciária federal fora do RS. Segundo o governo do Estado, a medida já estava prevista.
Uma das suspeitas da polícia é de que a pistola 9 milímetros usada para executar Nego Jackson tenha ingressado na penitenciária com uso de drone. Além dos dois presos, que teriam sido os autores diretos da morte, a polícia segue investigando outros possíveis envolvidos na execução. Segundo o DHPP, os alvos não necessariamente possuem relação direta com o crime na Pecan 3. A operação desta quarta-feira é considerada, no entanto, uma espécie de resposta ao grupo.
— Um crime dessa magnitude não acontece porque dois presos resolveram matar outro. No crime organizado, isso não acontece. Tem que ter organização, colocação da arma (na prisão), das munições, a proteção dos membros daquela liderança envolvida na morte. Ele não realiza esse ato sozinho. Então, diretamente envolvidas na execução tem duas pessoas, mas indiretamente vão ter vários graus de envolvimento. Os mais próximos estão dentro do inquérito de Canoas, e alguns em outros inquéritos. A facção que decidiu matar dentro do sistema prisional vai sofrer o maior prejuízo possível — afirma o diretor do DHPP, delegado Mario Souza.
Descapitalização
A Operação Magnus Oris, realizada na terça-feira, cumpriu 40 mandados de busca e apreensão em sete cidades — seis delas no RS e uma em Santa Catarina. Durante a ação, que contou com 350 policiais civis e militares, foram presos cinco homens, duas mulheres e apreendido um adolescente, além de seis armas de fogo. Alvorada foi escolhida para receber ação por ser justamente a cidade de origem de Brum, um dos apontados como autor da execução.
— O raciocínio é atingir a facção como um todo porque eles estão sustentando isso. São um grupo criminoso e atuam em conjunto. E esse grupo se retroalimenta. Quando falta dinheiro de um lado, a outra parte pode apoiar. Da mesma forma, quando falta arma, falta executor, falta o traficante, quando faltam veículos para fazerem os bondes e atacarem uns aos outros. Obviamente, temos que responsabilizar quem está diretamente envolvido, o executor, mas nunca pode ser esquecido o mandante, e jamais a liderança. Caso contrário, ficaríamos enxugando gelo — diz Souza.
Durante a ação, em Alvorada, um comércio foi um dos locais onde os policiais realizaram buscas. Foram apreendidos cerca de R$ 50 mil em em espécie — há suspeita de que o bar seja usado para lavar o dinheiro do tráfico. Além dessa operação, outra já havia sido realizada na terça-feira e um inquérito de lavagem de dinheiro foi aberto contra o grupo criminoso após a morte na penitenciária.
— Se essa facção cometeu um ato que é inaceitável tem que sofrer represália como um todo. Não só quem aperta o gatilho. O executor é uma mão de obra muito barata. Por isso, estendemos as investigações para o mandante, as lideranças. Todo mundo que contribuiu de alguma forma com a facção. Somente aumentando o custo da morte deles é que as lideranças vão começar a pensar — afirma o diretor do DHPP na Região Metropolitana, delegado Rafael Pereira.
Nessa terça-feira (17), quatro homens suspeitos de integrarem o mesmo grupo foram presos, dois com mandado de prisão preventiva e dois em flagrante por tráfico de drogas. A operação teve como alvo o núcleo do grupo com atuação nos municípios de Gravataí, Cachoeirinha e Canoas, na Região Metropolitana. Uma pistola calibre 9 milímetros foi apreendida.
Essas medidas fazem parte de um protocolo adotado pela polícia para tentar coibir as execuções cometidas pelo crime organizado. Ações são realizadas em sequência e de forma escalonada. É essa estratégia que foi adotada em Porto Alegre há cerca de dois anos.
— De 2010 até agora, Porto Alegre nunca teve tão poucos homicídios, nem Gravataí e Alvorada. Embora não tenha número grande de homicídios, a morte no sistema prisional é que levou ao acionamento do protocolo e ele vai seguir operando, com outras medidas. A regra é a concentração de energia do Estado, das três polícias estaduais, nesse momento na facção que insistiu em determinar a morte de um outro criminoso dentro do sistema prisional. A ideia é tornar essa morte muito cara para a facção — afirma Souza.
Magnus Oris
A chamada Operação Magnus Oris é resultado de investigação da Delegacia de Homicídios de Alvorada. Segundo o delegado Edimar Machado, os mandados foram cumpridos em Alvorada, Viamão, Porto Alegre, Cachoeirinha, Gravataí e São Leopoldo, além de Forquilhinha, município de Santa Catarina a cerca de 80 quilômetros da divisa com o Rio Grande do Sul. A operação tem como objetivo atingir os envolvidos nessa célula da facção relacionada ao tráfico de drogas na região dos bairros Aparecida e Stella Maris, em Alvorada.
A série de ações
A ofensiva é considerada mais uma espécie de resposta ao grupo criminoso, após a morte de Nego Jackson. Entre as estratégias que vêm sendo adotadas pela Polícia Civil para tentar coibir os homicídios praticados pelo crime organizado, está a de realizar operações contra as facções diretamente envolvidas nesses crimes. Em razão disso, desde que ocorreu a morte dentro da Pecan 3 já foi realizada uma série de ofensivas. Confira:
Operação Visitatio Fatalis
Na terça-feira (17), quatro homens foram presos: dois com mandado de prisão preventiva e dois em flagrante por tráfico de drogas. A operação teve como alvo o núcleo do grupo com atuação nos municípios de Gravataí, Cachoeirinha e Canoas, na Região Metropolitana. Uma pistola de calibre 9 milímetros foi apreendida.
Queda Livre
Em 29 de novembro, a chamada Operação Queda Livre prendeu 11 pessoas por suspeita de envolvimento em assassinatos ocorridos em Porto Alegre e na Região Metropolitana. Sapo é apontado como um dos mandantes de um dos crimes. Durante a operação, foram apreendidos controles de drones e também caixas do equipamento.
Um segundo inquérito da Polícia Civil foi aberto contra a facção envolvida na morte na Pecan 3. O foco é a lavagem de dinheiro, ou seja, a forma usada pelo grupo criminoso para ocultar valores obtidos de maneira ilegal, como, por exemplo, por meio do tráfico de drogas. No centro dessa apuração está Sapo, apontado como um dos líderes da organização e também como um dos mentores da execução de Nego Jackson.
Na última quinta-feira (12), a Polícia Civil realizou nova operação contra o tráfico de drogas e organização criminosa. O alvo foi um grupo suspeito de integrar facção que seria liderada por Nego Jackson, e por Dezimar de Moura Camargo, o Tita. Os dois foram executados em novembro, sob a suspeita de execução por grupos rivais. Nove pessoas foram presas na operação do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc).